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Tecnologia para o agronegócio vencer os desafios

(Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo)

No último dia 20 de julho, começariam a valer as novas regras para o cálculo do frete mínimo de transporte de cargas publicadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Nessa nova edição, a metodologia para o cálculo do frete mínimo deveria considerar 11 tipos de categorias de cargas. Deveriam ser considerados também o tipo de carga, os custos de deslocamento, os custos de carga e descarga, além do número de eixos carregados. Haveria a aplicabilidade de multas para o descumprimento do pagamento dos pisos mínimos instituídos. Não obstante, ainda seria levada em consideração a distância percorrida pelo caminhoneiro.

Mas, no dia 21, segunda-feira, quando as novas regras de cálculo já deveriam vigorar, o governo recuou e resolveu suspender as mudanças. Essa atitude – a de lançar uma nova tabela com novas regras em um dia e, 48 horas mais tarde, anunciar o seu fim – é provavelmente o maior problema que o Brasil enfrenta para o seu crescimento. Não existe maior trava para o desenvolvimento que a instabilidade e a incerteza nas regras da economia.

Falta investimento para a construção de uma infraestrutura compatível com o montante de commodities que produzimos e exportamos

Vamos pensar na Austrália, por exemplo. O PIB australiano tem uma variação de 0,9% ao ano desde 1991. O leitor não irá encontrar a Austrália em nenhuma lista dos países que mais crescem no mundo (na verdade, o seu PIB se mantém estável em 2,5% ano, em média, por mais de três décadas), mas ela é um dos países mais previsíveis do mundo para o empresário. Ele sabe exatamente quando e onde investir, pois tem confiança na estabilidade do país e certeza do seu crescimento, mesmo que modesto. Com isso, pode fazer algo que para nós, aqui no Brasil, parece uma missão impossível: planejar o futuro.

Para nós, do agronegócio, não existe safra sem planejamento. A comida que vai para a sua mesa hoje foi planejada com anos de antecedência. Um fazendeiro ou uma empresa do agro só pode investir em ações para melhorar a safra do próximo ano com uma avaliação que considere planejamento e estratégia, algo que envolve logística. Para planejamento de safras, existem tecnologias e soluções específicas que podem atender este empreendedor de forma específica, de acordo com seus objetivos e planejamento, incluindo a gestão de toda a logística de que esse mercado necessita. Porém, para isso a visão de futuro se faz essencial.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, liderando a produção de alguns dos principais cultivos, como soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão. Toda essa complexa dinâmica de negócio e produção engloba uma cadeia que mais se adéqua a um emaranhado de rotas ou de redes interligadas, de ponta a ponta, que passam por várias decisões logísticas.

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Porém, quando falamos de infraestrutura logística no Brasil como um todo, na lista de transportes modais as rodovias são as opções mais caras, perdendo apenas para o transporte aéreo. Hidrovias e ferrovias deveriam ser – mas não são – os meios mais lógicos e econômicos para o transporte de carga, principalmente se estamos falando de produtos alimentícios. Falta, entretanto, investimento para a construção de uma infraestrutura compatível com o montante de commodities que produzimos e exportamos. Ferrovias necessitam de grandes investimentos e demoram anos, muitas vezes décadas, para estarem prontas. Setenta por cento do que produzimos ainda se utiliza de rodovias. E essa é a discussão que realmente interessa ao futuro do nosso país. Como criar, de forma consistente e planejada, uma infraestrutura nacional que atenda às demandas das nossas commodities?

Um estudo publicado pela Fundação Dom Cabral em 2018 apontou que 12,37% do faturamento bruto das empresas tem sido corroído pelos custos logísticos. Em outra pesquisa, de 2015, realizada por um pesquisador da Esalq, estimou-se que o Brasil perde em média, em uma safra, algo em torno de R$ 2 bilhões em grãos de soja e milho. Esse dinheiro fica literalmente espalhado pelas estradas brasileiras, nunca chegando ao porto de destino. R$ 2 bilhões de reais – todos os anos.

Os números assustam, e com razão. Precisamos arregaçar as mangas e assumir a responsabilidade dos nossos papéis de líderes e profissionais de gestão no agronegócio. Considerando tantos empecilhos, desperdícios, distâncias e custos, a eficiência operacional faz parte da nossa lição de casa. É preciso investir em gestão e, com ela, em tecnologia. Apenas com controles e planejamento eficientes teremos diferenciais competitivos que nos permitam transitar com nossas mercadorias internamente e em todos os continentes, alçando o agronegócio brasileiro a patamares ainda mais altos. A adoção de tecnologia não é mais uma opção, é mandatória.

Cintia Leitão de Souza é head de Agronegócio da Senior Sistemas.

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