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Imagem ilustrativa.| Foto: Pexels

Quando nos debruçamos sobre algumas categorias de produtos no Brasil, percebemos como há monopólios. Talvez não sejam monopólios explícitos ou no sentido clássico do termo, mas duopólios ou oligopólios. Pensemos nos segmentos de bebidas, telefonia, chocolates, supermercados, siderurgia, aviação, metalurgia e mineração. São poucas as companhias que vêm à cabeça.

O mercado de bebidas, por exemplo, é protagonizado pela Ambev, que concentra mais de 50 marcas de bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Caso semelhante é o da Unilever, que detém 29 marcas de alimentos, produtos de limpeza e higiene no mercado brasileiro – no mundo, são mais de 400 marcas. A Nestlé, juntamente com suas empresas coligadas, está presente em 99% dos lares brasileiros, segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel. Isso impacta o consumidor, tanto em sua possibilidade de escolha quanto no bolso. Esses pequenos “feudos” encarecem os produtos e prejudicam a competição. No fim do dia, o que temos é uma falsa competição. A tecnologia, felizmente, tem contribuído para o rompimento dessas barreiras.

Um exemplo crucial para esse movimento foi o de aplicativos de transporte, em especial o Uber. Criada em 2009, a plataforma chegou ao Brasil em 2014 e mudou, inclusive, a relação dos usuários com o transporte público: um estudo feito pelo Gaesi, grupo de pesquisadores sobre automação e mobilidade da Universidade de São Paulo, mostra que 62% dos usuários do aplicativo utilizavam transporte público, mas migraram para os apps. A plataforma revolucionou não apenas o segmento de transporte, mas criou uma nova forma de prestação de serviços, hoje conhecida como “uberização”. A facilidade de trabalhadores aderirem à plataforma como prestadores de serviços atraiu pessoas que nunca haviam trabalhado no segmento e agora têm no aplicativo sua principal fonte de renda.

Embora o movimento tenha ocorrido na última década, hoje já parece parte de um passado distante, de tão enraizado na vida cotidiana. Daqui a alguns anos será difícil acreditar na burocracia que era necessária para se conseguir uma licença para ser taxista. Além disso, a atividade estava sujeita a uma série de ilegalidades, como o famoso “arrendamento de placas”, que muitas vezes se mostrava como a única possibilidade de muitos trabalharem.

Ainda assim, quando o Uber surgiu e começou a se popularizar, a primeira reação dos taxistas e do poder público foi apontar uma suposta ilegalidade na atividade. Em seguida, tentou-se estipular uma série de burocracias similares às do táxi. As ações não foram para a frente. No fim das contas, as próprias empresas de táxi que sobreviveram acabaram se adaptando, criando aplicativos e dando cupons de desconto aos usuários.

Os bancos são outro exemplo de oligopólios que começam a passar por transformações. As cinco maiores e mais tradicionais instituições financeiras do país – Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal (CEF) e Santander – ainda concentram cerca de 80% do crédito brasileiro. Os cinco bancos também têm 76% dos ativos totais e 77,7% dos depósitos. Número alto, mas que vem se reduzindo ano a ano, segundo o Relatório de Estabilidade Bancária (REB), do Banco Central (BC), divulgado no fim de 2020.

Enquanto isso, as fintechs crescem cada vez mais. O segmento concentra seis dos unicórnios brasileiros – startups avaliadas em mais de R$ 1 bilhão: Nubank, PagSeguro, Stone, Ebanx, Creditas e C6 Bank. Em 2020, o país contava com mais de 750 fintechs. O Fórum Econômico Mundial cita o setor como um dos que mais impulsionam o cenário de startups no Brasil, fator relacionado ao elevado uso de smartphones e à população jovem que deseja realizar transações financeiras e ter crédito sem muita burocracia.

Tais iniciativas que estão transformando o mercado, ameaçando gigantes e décadas de tradição, são impulsionadas por uma nova geração de empresas criadas por jovens, motivados pela lógica do falhar rápido para aprender rápido – e consertar rápido. Essa lógica atrai investidores de todo o mundo: nos primeiros meses de 2021, as fintechs brasileiras receberam mais de US$ 500 milhões em investimentos, segundo relatório do Distrito Dataminer, agência de inteligência de mercado da empresa de inovação aberta Distrito. São mudanças que devem diversificar o mercado e pulverizar o capital, abrindo portas para (de fato) a verdadeira competição!

Daniel Alberini é sócio-fundador e diretor de Gestão da CTM Investimentos.

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