Confesso que ando preocupado com as informações que a teledramaturgia brasileira vem reproduzindo sobre os exames de DNA para paternidade, mostrando cenas em que os vilões conseguem acesso ao material colhido, adulterando os resultados. Como especialista na área, posso afirmar que o que as pessoas têm assistido só acontece nas novelas. E explico. Os testes realizados em laboratórios de reconhecida qualidade seguem requisitos que impossibilitam a fraude. Dentre eles, no que chamo de requisitos pré-analíticos, destaco o fato de a coleta ser presencial, com todos os três envolvidos mãe, filho e suposto pai devendo se reconhecer mutuamente e presenciando a coleta um do outro. Além disso, há registro por meio de fotografia, coleta de impressão digital, assinatura de termo de consentimento (esta, uma coleta voluntária) e, por fim, uma lacragem do kit na presença de todos os três envolvidos.
Depois, seguem o que chamo de requisitos analíticos. Os principais são o uso de amostras-controle, que têm resultado conhecido, a participação dos laboratórios em programas de controle de qualidade e a repetição da análise. Neste último item, ressalto que os maiores laboratórios fazem e refazem o exame e, somente após a comparação de ambos as análises é feita a montagem do laudo.
Por fim, são aplicados os requisitos pós-analíticos. Nestes, o destaque fica para o fato de o laudo ser entregue somente para as partes envolvidas mediante reconhecimento prévio, não sendo informado por internet ou qualquer outro meio eletrônico.
Para oferecer testes de paternidade seguros, os grandes laboratórios seguem padrões de qualidade, como o da Sociedade Internacional de Genética Forense (ISFG) e da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB). A busca por esta qualidade é constante no setor. Nosso laboratório, por exemplo, foi o primeiro no país a receber a acreditação na norma internacional 17.025 nos processos de análises de paternidade. Com isso, chega-se a alcançar graus de precisão entre 99,9% e 99,99999999%. Além disso, o teste é processado com o auxílio de modernos equipamentos e um minucioso trabalho de especialistas em genética molecular.
Vale também lembrar que todos nós, indiferentemente da aparência física, somos resultados de uma contribuição genética idêntica de ambos os genitores. Além disso, dentro da espécie humana, somos muito mais parecidos que diferentes. Apenas 0,1% de nosso genoma é responsável por toda a diversidade biológica existente no planeta. Fração esta ínfima diante dos três bilhões de pares de base que compõem o genoma humano, porém, essencial para a realização de exames de paternidade.
Enfim, reforço que este possível excesso da ficção não permita o comprometimento da credibilidade deste tipo de exame, dado todo o esforço feito pelos grandes laboratórios para que os exames de DNA para paternidade tenham resultados seguros e extremamente confiáveis.
Marcelo Malaghini, responsável pela área de Biologia Molecular do Laboratório Frischmann Aisengart e doutor em Biotecnologia
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