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Atualmente, temos mais de 25 síndromes ou transtornos que atingem o ser humano na infância, etapa que compreende dos zero aos 10 anos de idade. Nos últimos anos descobrimos o autismo, o transtorno opositor desafiador (TOD), o transtorno de déficit de atenção, a hiperatividade (TDAH), além de doenças mais conhecidas como a dislexia e a síndrome de Down.

Dentre todas elas, a que mais vem se destacando na primeira infância é o TFE, o Transtorno de Falta de Educação. Esse problema é desenvolvido pelas crianças quando encontram um ambiente que não ajuda na sua formação para a vida em sociedade, que pressupõe limites, pressão por resultado, cumprimento de horários, normas e regras, sejam coletivas ou individuais.

Ao contrário das crianças de 40 anos atrás, que eram educadas “em bandos”, com muitas regras e poucos direitos, hoje em dia nem para nascer elas precisam fazer esforço. Ao chegar em casa, independente de classe social, normalmente encontram tudo organizado, desde enxoval, roupas, berço, e ainda são cobertas de proteção, cuidado e zelo durante o primeiro ano de vida. A criança não pode chorar; se contrariada, ela reage e é atendida rapidamente pelo adulto de plantão.

A verdade é que temos muitos adultos para poucas crianças e, portanto, um monte de adultos palpiteiros e disponíveis para atender as mais básicas necessidades dos pequenos, desde alimento, brinquedos, roupas e bugigangas, que no fundo não servem para nada, apenas para atender o ego do adulto que as comprou.

Temos um monte de adultos palpiteiros e disponíveis para atender as mais básicas necessidades dos pequenos

Nos primeiros quatro anos de idade, toda falta de educação é bonita. Sempre há aquele adulto para rir e dizer o quanto a criança é inteligente, geniosa, parece um adulto etc. Não é por acaso que o auge da tirania infantil acontece aos 4 anos. É isso e o mais alto grau de falta de educação. Quando o ser humano chega aos 4 anos nos dias de hoje, os adultos começam a se preocupar com a sua educação, pois em geral o que era bonito passa a ser feio, deselegante, agressivo.

As escolas e os educadores acabam sendo as piores vítimas dessa situação, pois ficam sempre em dúvida: se apertam na disciplina, os adultos não concordam; se chamam a família para conversa, em muitos casos são questionados na sua capacidade e profissionalismo.

Em geral, é a partir dessa idade que as crianças são encaminhadas para avaliações com psicólogos e psicopedagogos, neurologistas e outros tantos profissionais para buscar uma indicação de como lidar para encaminhar esse ser humano em formação para a vida adulta.

Nos dias de hoje, muitas vezes o TFE é confundido com transtornos reais, que levam as crianças a tomar medicamentos, ou a uma sequência de acompanhamentos psicológicos para que aprendam e aceitem os limites e dificuldades da vida. Estamos vendo o crescimento de uma verdadeira indústria de avaliações, laudos e tratamentos para crianças que, em muitos casos, são apenas mal educadas.

Além de aumentar o número dos “especialistas” defensores da transgressão que criticam a escola e a formação dos professores, essa discussão tira o foco principal do problema, pois a educação é um processo contínuo que começa desde antes do nascimento, e um processo essencialmente humano e social, que se estabelece dos mais velhos para os mais jovens através da vivência e dos exemplos. Portanto, o que estamos vivendo com as nossas crianças e jovens é apenas fruto de uma sociedade doente que não entende que, em vez de dar o que não teve ao seu filho, deveria, sim, dar o que teve: limite, valores e deveres.

Agora, o novo Estatuto do Deficiente – que, na ânsia de incluir os deficientes na sociedade e através da escola, busca a igualdade de oportunidades –, pelas características punitivas que a nova lei impõe especialmente à escola, levará a uma indústria de laudos e pareceres para incluir pessoas que em sua grande parte são apenas mal educadas. Pais cheios de direitos levarão seus filhos a serem carimbados como deficientes apenas para não serem, em sua maioria, contrariados e verem estabelecidos os limites tão necessários para a vida em sociedade.

Portanto, resta às pessoas com filhos na fase inicial educá-las, deixar que chorem às vezes, estabelecer e cumprir as regras, limites, horários. Não dê tudo ao seu filho, não deixe que os adultos o atrapalhem para que sejam crianças respeitosas, organizadas e com limites. Se você for duro na educação do seu filho, talvez como seus pais tenham sido com você, terá grandes chances de não gastar com longos e caros tratamentos psicológicos e psicopedagógicos e até medicamentos pelo simples fato de serem acometidos do transtorno de falta de educação e as pessoas não saberem diferenciá-lo de outros problemas.

Ademar Batista Pereira, educador e empresário, é vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).
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