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Respeito ao parto e ao nascimento

O corpo recebe o sinal; é chegada a hora. A mulher sente seu corpo se abrindo a cada contração, imerso em ondas de calor, é pura energia em movimento. Ela pede por carinho, por colo, busca o repouso no intervalo entre o fluxo das contrações. Mexe o quadril, acocora-se, emite sons desconhecidos. Pede por um gole d’água. Muitas horas se passam e os cabelos ficam bagunçados; os olhos fitam o infinito. E, de repente, com força, o corpo em harmonia empurra o bebê, com gritos, com entrega, são os ruídos da alma. Suavemente o bebê vai saindo, sendo abraçado pelo corpo quente de sua mãe. E, então, nasce!

Leia a opinião completa de Nitiananda Fuganti, doula, educadora materno-infantil, responsável pela Casa Mãe e coordenadora do Movimento pelo Bem Nascer em Curitiba.

Ajudo crianças a nascer há 30 anos. E fico assustado com algumas posições adotadas e com o andamento do projeto que ora virou lei pela Câmara de Vereadores de Curitiba, sem ouvir a especialidade médica. Fui procurado como médico por repórteres da Gazeta do Povo, e citado na reportagem que fez referência ao tema.

Ninguém consciente pode ser contra uma lei que visa ajudar o ser humano. E uma gestante sempre está em condição de vulnerabilidade em relação ao sistema responsável por seu atendimento. Porém, as formas de proposição de leis e peculiaridades acerca deste tipo de atendimento especializado requerem um estudo profundo e respeitoso de todos os ângulos. Não pode se basear apenas em um grupo de opiniões.

Informar sempre! Já temos para isso o Consentimento Informado. Mas considerar o nome "violência obstétrica" torna imediatamente médicos e enfermeiras foco de suspeita. Seremos todos violentos, grosseiros, agressivos? É necessária uma lei para informar um paciente que um médico ou uma enfermeira não podem ser "grosseiros?"

Sempre orientei previamente casais candidatos a um parto natural de que, no momento do nascimento, muitas vezes o médico precisa exercer comando. E que eles precisam saber a diferença entre ser rígido e ser ríspido. A grande maioria das pessoas não vive a experiência de controlar uma gestante em estado de ansiedade no período expulsivo do parto. Às vezes não é fácil para ninguém.

Orientar sobre laqueadura? Já existem normas vigentes e uma paciente não deve decidir sobre atos definitivos para a sua vida futura em tal momento emocional. As chances de arrependimento são enormes. E laqueadura é definitiva. A conduta referente a um parto por vias naturais ou por cesárea é de estrito consenso previamente debatido entre médico e paciente.

E a cesárea no Brasil é muito mais desenvolvida tecnicamente do que lá fora – como comparar? A realização do "corte na vagina" no momento do parto não é uma invenção de um sádico; é de real necessidade muitas vezes para proteger o períneo e nunca para acelerar o parto! Não temos esse poder, como querem fazer entender.

Sobre muitas das propostas na lei, apenas quem trabalha no local pode ter uma ideia mais próxima da realidade. Uma paciente foi examinada por um médico. Agora ele está em uma cirurgia de emergência e a paciente precisa ser reavaliada – não pode ser outro médico? Poderíamos escrever muito mais! Mas, se todos queremos ajudar a gestante, por que deixaram a nós, obstetras, fora da discussão?

Pensem! Que interesses podem estar além da ajuda digna à mulher, pelo qual todos nós juramos fidelidade médica? Eu tenho orgulho da minha profissão!

José Jacyr Leal Júnior, obstetra há 30 anos, é integrante e ex-diretor da Comissão de Obstetrícia da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná e da Associação Médica do Paraná.

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