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Transformar a política vivendo nossos valores
| Foto: Wikimedia Commons

É quase universal o sentimento de que “algo não está certo” e que o mundo, quase sempre significando o nosso entorno, poderia ser muito melhor. Em momentos e lugares historicamente significativos, esses pensamentos geram ações que, apesar de parecerem profundamente únicas e singulares – e o são –, possuem algo em comum a todo ser humano, algo que parece familiar a todos nós, mas que talvez não estejamos em condições de manifestar no nosso dia a dia.

Neste dia 18 de dezembro completam-se dez anos do falecimento de um dos maiores pensadores do século 20, não por profissão, mas por prática: Václav Havel. Ele era um trabalhador; nunca concluiu a universidade e, ao prestar serviços de técnico de palco nos teatros de Praga, acabou se tornando rapidamente um celebrado dramaturgo e escritor. Suas principais contribuições para a humanidade, todavia, vão além dos palcos: se estenderam às praças da capital da então Tchecoslováquia na Revolução de Veludo, em 1989, e até hoje ressoam em escritos profundamente provocantes e cheios de sabedoria.

É quase universal o sentimento de que “algo não está certo” e que o mundo, quase sempre significando o nosso entorno, poderia ser muito melhor.

Em um deles, Havel coloca uma responsabilidade grande sobre aqueles que buscam a carreira política. Ele brinca com o ditado “um povo tem os políticos que merece”, e que traz uma verdade: os eleitos são um reflexo de sua sociedade. Mas ele vira o espelho para esses mesmos políticos, dizendo que, paradoxalmente, a sociedade é também um reflexo de seus políticos. E que está a cargo deles, lideranças políticas, escolher quais forças e tendências da sociedade suprimir e quais fortalecer – e que, nessa tarefa, podem se apoiar no que cada cidadão tem de melhor, ou no que temos de pior.

Responsabilidade é um tema constante na sua obra. Falando de um filósofo conterrâneo, que na época morava na Califórnia, Havel lamenta que sua talvez quixotesca defesa da ideia de que o “mundo pode ser mudado pela força da verdade, pelo poder de uma palavra verdadeira, pela força de um espírito livre, consciência e responsabilidade – sem armas, sem desejo de poder, sem negociatas e politicagens” está muito distante do horizonte de pensamento desse e de muitos de nossos formadores de opinião e ditos especialistas. Acontece que essa sua ideia teve a chance de ser posta à prova – e finalmente dar frutos na Revolução de Veludo, não violenta e profundamente baseada numa resistência dos “sem-poder”, vivendo na verdade, buscando sempre uma vida moral, pautada por uma profunda e transcendente responsabilidade.

No nosso dia a dia podemos, sim, viver na verdade, evitar ações que prejudiquem o nosso entorno, promover ações que favoreçam o nosso florescimento e o daqueles ao nosso redor. Ser solidário, responsável, colaborativo, diligente. E fortalecendo uma cultura que facilite e incentive essas virtudes – democráticas, humanas – estamos nos envolvendo numa gentil, mesmo que aparentemente tediosa, revolução.

O Instituto Sivis foi fundado há dez anos, em 2011, o ano em que perdemos Václav Havel. Nosso propósito é enraizar os valores democráticos no coração dos brasileiros, e esperamos poder contribuir, com nosso trabalho e impacto, para a mesma causa que motivou Havel a realizar grandes transformações. Levar adiante esses valores é para nós uma honra, além de uma grande responsabilidade – que podemos todos compartilhar em nossas vidas cotidianas.

Jamil Assis é gerente de Relações Institucionais do Instituto Sivis.

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