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Transporte animal: nova ação do governo federal contra o agro

Portaria sobre bem-estar e transporte animal ignora a realidade do agro, eleva custos e ameaça o abastecimento de proteínas no Brasil. (Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo)

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Recentemente, comentei aqui, na Gazeta do Povo, sobre o desastrado Plano Clima do governo federal e suas aberrações em relação ao produtor rural.

Agora tivemos outra ação do governo federal que impacta de forma negativa e substancial a produção de alimentos: a Portaria SDA/MAPA 1.280, que estabelece regras e procedimentos para a proteção e o bem-estar dos animais de produção durante o transporte.

Ninguém nega a importância do bem-estar animal (BEA) nos dias de hoje, mas o que se observa nessa portaria, que está em consulta pública, é um desconhecimento total do sistema produtivo de proteínas animais.

O primeiro desatino é que o transporte animal não poderá ser feito apenas pelo motorista, sendo obrigatório: “A viagem completa deve contar com o assistente de bem-estar animal, não podendo o condutor ser o único profissional presente para acompanhamento das condições de bem-estar dos animais transportados.”

Quem vai arcar com esse custo?

Além disso, a portaria determina que: “Quando a temperatura ambiente prevista para o momento em que estes animais se encontrem no local de partida e no local de destino for inferior a dez graus Celsius, o transporte só deve ocorrer em veículos com proteção contra o frio.”

Reforçando, da mesma forma: “Quando a previsão de temperatura indicar temperaturas superiores a trinta graus Celsius, só serão permitidas viagens em veículos que disponham de sistema de ventilação ou refrigeração que permitam controle adequado da temperatura.”

Ou seja, nossos caminhões agora terão que ter ar-condicionado e aquecedor para percorrer um país que mal possui estradas. A ironia é que, atualmente, apenas 20% dos domicílios brasileiros têm aparelho de ar-condicionado. Entre os eletroeletrônicos mais relevantes, esse é o de menor presença nas residências.

A criação de animais salvou mais vidas do que qualquer outra invenção humana. Somos um dos maiores consumidores de carne do planeta, assim como o maior exportador de proteína animal do mundo.

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O ativismo dessa portaria coloca em risco o abastecimento nacional e a nossa cadeia de suprimentos global

Em muitos países africanos e asiáticos, surpreendentes 9 em cada 10 mulheres são deficientes em micronutrientes, em grande parte devido a dietas pobres em alimentos de origem animal.

A carne é um dos poucos alimentos que contém todos os nutrientes de que necessitamos em sua forma adequada e é também um dos mais seguros para nossos níveis de açúcar no sangue e insulina.

É preciso esclarecer que hoje já adotamos técnicas de manejo para garantir a segurança do alimento e o BEA. O Brasil possui várias tecnologias para melhorar o controle da ambiência e assegurar um completo bem-estar animal.

Nessa discussão, fica a pergunta: será que os redatores dessa portaria não sabem que ninguém tem mais interesse no bem-estar animal do que o criador, que deseja preservar seu capital: o animal? Então, por que prejudicar o seu próprio animal?

Um país que quer obrigar os caminhões de transporte animal a terem ar-condicionado, mas não possui esse aparelho em todo o transporte escolar ou nos hospitais, não está preocupado com o preço da comida. Está preocupado em agradar ONGs estrangeiras que visam desestabilizar o nosso agro.

A verdade é que os ativistas que formularam essa portaria, com os exageros citados, tiveram que escolher entre a produção de proteínas animais e um bem-estar animal fora da realidade.

Eles escolheram os animais. Isso pode colocar milhares de famílias em risco pela falta de proteína animal em seus pratos, a um preço que poucos poderão pagar.

Antonio Cabrera foi Ministro da Agricultura e Reforma Agrária.

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