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A postura de Donald Trump inspira pouca confiança nos conservadores, não só porque demonstra fraca consistência, como pelo seu lado histriônico, egocêntrico e populista. Ted Cruz é um nome mais palatável para aqueles que desejam resgatar os valores dos “pais fundadores”, que fizeram da América essa potência atual.

Dito isso, achei melhor deixar o excêntrico showman de lado e procurar saber o que o empreendedor de sucesso pensa de fato. Li Time to get tough, escrito em 2011, quando ele apenas pensava numa eventual candidatura, mas já desejava uma mudança nos rumos do país, após o primeiro mandato do “progressista” Obama. O Trump por trás daquelas páginas parece bem mais razoável que o pré-candidato que joga para a plateia. Sim, está ali também seu jeitão ególatra e a persona do macho man, que faz e acontece, que vai resolver todos os problemas batendo na mesa, o que desperta inclusive receio nos que acreditam em meios mais diplomáticos para solucionar conflitos geopolíticos.

Quando os EUA se mostram fracos perante o mundo, os inimigos da liberdade ficam mais ousados

Mas há outro lado que merece destaque, um verdadeiro patriota cansado de ver a esquerda detonar os principais valores americanos. Obama queria transformar “fundamentalmente” a América, e isso não é coisa de quem ama seu país. Já Trump quer preservar a América que sempre foi admirada, por ser a líder do mundo livre, por ser a terra dos bravos e da liberdade.

Apesar de algum ranço mercantilista, o Trump do livro é um liberal clássico, defensor de uma economia livre e do capitalismo sem tanta intervenção estatal. Defende com afinco o mercado, condenando a visão igualitária do Partido Democrata, que tem intensificado os ataques aos lucros e aos empreendedores que criam riqueza, falando apenas em dividi-la melhor. O modelo de Estado de bem-estar social é duramente condenado também, por criar dependência e por não estimular a dignidade do trabalho. Trump acredita que Obama utiliza tais benesses estatais para comprar votos dos mais pobres, o que julga indecente (soa familiar?). Aliás, o presidente americano é alvo dos mais duros ataques, tratado como um estúpido que nada entende de negócios e de como se cria empregos.

Em contrapartida, sobram elogios ao ex-presidente Ronald Reagan, um dos maiores líderes conservadores que a América já teve. Trump acha que o país precisa, com urgência, resgatar o respeito de que já desfrutou outrora como líder do Ocidente, algo que a postura pusilânime de Obama impede. Com os inimigos em potencial, seria o caso de falar muito mais grosso e negociar com bem mais firmeza. Por outro lado, nações amigas, como Israel, mereceriam maior apoio. Quando os EUA se mostram fracos perante o mundo, os inimigos da liberdade ficam mais ousados. Trump acerta no diagnóstico, mas não é trivial julgar se seus métodos surtiriam o efeito desejado. Fato é que Obama fracassou na política externa. A mensagem de Trump, nesse sentido, é alvissareira, pois ao menos reconhece a importância de uma liderança forte.

Por fim, sobre sua bandeira mais polêmica, a imigração, Trump parece menos radical no livro que nos discursos, quando lança mão de frases de efeito. O que ele defende não parece tão absurdo. Inspira-se no modelo canadense. Quer impedir a imigração ilegal e quer fomentar a ida dos melhores para a América, dentro da lei. Viver nos Estados Unidos é o desejo de muitos e deveria ser visto como um prêmio. Abrir as fronteiras para quem quer apenas carona grátis no sistema seria um equívoco. Nada tão radical quanto parece, quando deixamos de lado o fator eleitoreiro da campanha.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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