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| Foto: Saul Loeb/AFP

Se Donald Trump deu início a uma nova era de conflito na política norte-americana, então as eleições intermediárias de 6 de novembro foram só mais um choque, e não um momento da virada na guerra. Explica-se: os republicanos perderam menos cadeiras na Câmara que os democratas em 1994 ou 2010, quando Bill Clinton e Barack Obama estavam em seus primeiros mandatos, e ambos foram reeleitos dois anos após os dois reveses.

E, embora os democratas tenham perdido espaço no Senado nessas situações, os republicanos de Trump, desafiando a tendência histórica, reforçaram a maioria na casa.

Tanto democratas como outros críticos do presidente alegam que, dada a robustez da economia, o fato de os republicanos não terem feito outra coisa a não ser manter o número de senadores revela um resultado condenatório ao seu governo. E se gabam de ter ganhado o “voto popular” para a Câmara por uma larga margem – mais de 8%, de acordo com as estimativas iniciais. Juntas, essas alegações pretendem mostrar que o trumpismo, enquanto programa e estilo de política, é impopular, um retrocesso para o perfil republicano, e coloca a vitória das próximas eleições em grande dúvida.

Trump conseguiu uma façanha inédita: a de aumentar a participação de seus correligionários e dos oponentes

O problema para quem diz isso é que nem as eleições presidenciais, nem as congressionais são decididas pelo voto popular nacional e, de fato, os resultados de 2018 confirmaram que o trumpismo – ou pelo menos o Partido Republicano de Trump – pode, sim, avançar e vencer as eleições presidenciais nos estados sem maioria absoluta, como Flórida e Ohio. Se Trump fosse o fracasso abjeto que a oposição e alguns ex-republicanos querem crer, o partido deveria ter tido um desempenho muito pior em 6 de novembro, mesmo com a economia tão favorável. Para começar, ela não estaria tão bem se o governo fosse tão incompetente e radical em termos ideológicos como alegam os críticos, quase dois anos depois de Trump ter tomado posse.

Em 6 de novembro, os republicanos perderam o governo do Michigan e não conseguiram emplacar nem governador, nem senador na Pensilvânia – dois estados que faziam parte do mapa eleitoral de Trump há dois anos e podem ter um papel crucial em 2020. Será que o presidente não teria condições de reconquistá-los? Lou Barletta, candidato ao Senado pela Pensilvânia (e que perdeu para o democrata Bob Casey, que buscava a reeleição), faz restrições ferrenhas à imigração, tanto quanto o presidente. Só que fez uma campanha considerada quase que unanimemente ruim, além de não ter nada do carisma ou talento do presidente para explorar as fraquezas do adversário com insultos bem empregados. Os êxitos democratas naquele estado não revelam muita coisa sobre o desempenho que um candidato seu terá contra Trump daqui a dois anos. O mesmo pode ser dito, com menos confiança, é verdade, sobre o sucesso democrata em outras disputas na região do Alto Meio-Oeste.

Em eleições intermediárias comuns, a participação é pequena e o partido de oposição tem a vantagem, como se vê no longo registro de perdas para quem quer que tenha a vantagem na Casa Branca na época eleitoral. Nas últimas décadas, só as votações de 1998 e 2002 foram exceções, nas quais o partido presidencial ganhou espaço. É fácil entender por que ele geralmente se vê ameaçado: tem de defender o histórico real de um verdadeiro líder, enquanto a oposição pode criticar o presidente sem ter de oferecer uma alternativa. Fortes críticas de um lado e a defesa necessariamente mais fraca do outro é a fórmula vencedora do partido que tem menos poder.

Flavio Quintela: “Midterms”: verificações e equilíbrios (publicado em 8 de novembro de 2018)

Leia também: Dados comprovam: Rússia também interferiu nas eleições intermediárias norte-americanas (artigo de Jonathon Morgan, publicado em 7 de novembro de 2018)

E foi o que aconteceu este ano. Entretanto, Trump conseguiu uma façanha inédita: a de aumentar a participação de seus correligionários e dos oponentes. Os republicanos, achando que ainda vale a pena brigar pelo plano de governo dele, estavam convencidos de que em várias questões cruciais – talvez a mais importante, as nomeações judiciárias – o presidente tinha cumprido aquilo que prometera. Isso ajudou a tornar a noite de terça em uma noite favorável, no geral, para o engajamento político, e manteve as perdas republicanas abaixo do que seriam se Trump fosse apenas uma figura impopular e contraditória.

E ele fez da eleição um verdadeiro campo de batalha em vez de uma retirada apressada. Sem dúvida, é amplamente odiado e temido, mas também é adorado como verdadeiro ídolo por seu eleitorado – não só pelos nacionalistas como ele mesmo, mas também pelos republicanos convencionais que querem impostos mais baixos, menos regulamentação e mais juízes conservadores. Longe de corroborarem o repúdio a Trump, seja pelo direito do derrotado e do arrependido ou pelo país como um todo, as intermediárias só ratificaram as linhas de conflito para o futuro.

E Trump estará no centro desse confronto, não como uma aberração ou desvio das normas políticas, mas sim como parte integrante do Partido Republicano – sendo seu cabeça e seu braço direito.

Daniel McCarthy é editor da “Modern Age”, uma revista acadêmica conservadora trimestral.
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