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A decisão do ex-presidente Donald Trump de impor tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos EUA, anunciada em 9 de julho de 2025, vai além de uma medida comercial. É um recado geopolítico direto ao governo Lula, por sua condução ideológica, instável e desconectada da racionalidade econômica.
Desde o início do atual mandato, o governo brasileiro optou por uma política externa de confronto com os valores do Ocidente liberal. Buscou aproximação com regimes autoritários, como China, Rússia, Irã, Cuba e Venezuela, além de demonstrar desprezo pela cooperação com aliados históricos como os Estados Unidos, Israel e a União Europeia.
A ideologia isolou o Brasil. Só a liberdade econômica com responsabilidade geopolítica pode resgatar nossa relevância
Essa guinada gerou desconforto crescente no cenário internacional. Como advertiu o General Akira Sato Matsuda, estrategista da Iniciativa DEX “não há soberania possível sem coerência entre a diplomacia e os interesses produtivos internos”. O Brasil falhou justamente nisso: adotou uma retórica ideológica que trai os fundamentos do próprio desenvolvimento nacional.
A nova tarifa de Trump atinge diretamente setores que sustentam milhões de empregos e bilhões em investimentos. No agronegócio e na bioenergia, Raízen, São Martinho e Jalles Machado enfrentam um baque direto: exportaram mais de US$ 650 milhões em etanol para os EUA em 2024. Com o aumento de 50% na tarifa, o produto brasileiro perde competitividade e abre espaço para concorrentes.
Na mineração e siderurgia, empresas como CBMM, Vale, CSN, Gerdau e Alubar sentirão o impacto em cadeias como aço, nióbio, cobre e alumínio. O prejuízo estimado ultrapassa US$ 2 bilhões em remessas comprometidas. E as perdas se estendem à indústria de base – Weg, Marcopolo, Randon, Embraer – todas com negócios relevantes nos EUA e em seus fornecedores. No setor de carnes e derivados, JBS, Marfrig e BRF enfrentam risco de queda brusca nas exportações. Segundo a ABPA, apenas a tarifa sobre alimentos industrializados pode significar US$ 1,2 bilhão em prejuízos e até 20 mil demissões.
A nova tarifa imposta pelo governo Trump é o custo de substituir o livre comércio pela diplomacia ideológica. Como alertou Friedrich Hayek, Prêmio Nobel de Economia, “quanto mais o governo planeja, mais difícil fica para o indivíduo se planejar”. E hoje, milhares de empresas brasileiras estão sob ataque justamente por falta de previsibilidade institucional.
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Ludwig von Mises, em Ação Humana, já nos lembrava: "Não há meio termo entre a economia de mercado e o controle total. O planejamento parcial leva ao planejamento total." É exatamente o que se vê: um Estado que quer decidir com quem o país deve se aliar, mesmo que isso custe bilhões aos que produzem, empregam e inovam. Mais contemporâneo, Thomas Sowell resume: “Políticos priorizam votos. Economistas priorizam resultados. O povo paga o preço da diferença.” O Brasil está pagando. Trump respondeu como homem de negócios. Lula atuou como militante.
A tarifa é apenas o primeiro gesto de Trump. Vêm aí restrições tecnológicas, barreiras fitossanitárias e possível boicote a parcerias militares e científicas. E o pior: a retaliação foi previsível – e evitável. O governo brasileiro precisa retomar o pragmatismo geoeconômico, restaurar confiança com parceiros sérios e ouvir seus estrategistas. A ideologia isolou o Brasil. Só a liberdade econômica com responsabilidade geopolítica pode resgatar nossa relevância.
Nélio Fernando dos Reis é pesquisador em Geopolítica de Minerais Estratégicos, editor-chefe da Revista Inovação Social e autor do livro Terras Raras, Poder e Independência. Atua como professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e é colaborador da Iniciativa DEX, think tank de defesa e soberania nacional.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



