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“Tudo pelo poder”: a espiritualidade da vaidade no cinema

Em "Tudo pelo Poder", de 2011, Stephen Meyers (Ryan Gosling) assessor político, se vê no centro de um escândalo que ameaça a campanha presidencial de Mike Morris (George Clooney). (Foto: Divulgação/Columbia Pictures/ Sony Pictures/Exclusive Media Group)

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George Clooney é mais um galã de cinema que conseguiu – na frente e atrás das câmeras – unir o talento ao carisma. E ainda refletir a sociedade contemporânea nas histórias que protagoniza ou produz em filmes.

O outro é Robert Redford, que amadureceu como ator na década de 1970, em filmes como Todos os Homens do Presidente, Jeremiah Johnson, Três Dias do Condor e Brubaker, até se tornar um diretor importante em Gente como a Gente, Nada é para Sempre e Lendas da Vida.

George Clooney seguiu trajetória semelhante neste século 21, atuando em diversos filmes, até produzir e dirigir o excelente Boa Noite, Boa Sorte e o interessante Caçadores de Obras-Primas, dentre outros.

Neste valioso drama político e thriller de suspense, Tudo pelo Poder (2011), com Ryan Gosling, Clooney atua e dirige numa história sobre os bastidores de campanhas políticas norte-americanas. O enredo do filme segue as negociações do candidato Mike Morris com assessores, durante as eleições prévias democratas que irão definir o candidato do partido à presidência dos EUA.

Clooney demonstra talento ao expor, com realismo e naturalidade, o impactante cotidiano de interesses que ocorrem numa campanha eleitoral, envolta na gestão interna dos voluntários e na escolha dos temas que serão discutidos publicamente com os eleitores.

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Numa perspectiva espiritual, Tudo pelo Poder é uma boa amostra artística de uma área da cultura em que as três cobiças pecaminosas dos homens se juntam de forma grave na corrupção do ser humano – a política

Pois, nesse contexto, a vaidade humana agrega desejos diversos, gerando aquelas tentações que promovem atitudes bastante danosas, capazes de arruinar as relações pessoais e a sociedade.

Tratamos aqui da espiritualidade da vaidade (o pecado predileto de Satanás, como dizia o protagonista do excelente filme Advogado do Diabo, de Taylor Hackford, 1997), sendo uma experiência espiritual humana profunda, que a Bíblia explica assim: "Não amem este mundo (cultura terrena)... Porque o mundo oferece apenas o desejo intenso por prazer físico, o desejo intenso por tudo que vemos e o orgulho de nossas realizações e bens. Isso não provém do Pai, mas do mundo" (1ª Carta de João, cap. 2, versículos 15-16).

A partir destes princípios cristãos, compreendemos que os seres humanos serão tentados a dominar as situações sociais da vida e abusar do próximo – com um forte ânimo opressor.

Isso pode ocorrer nas seguintes perspectivas: o forte desejo de adquirir de qualquer jeito algo que se enxerga, como um alvo de conquista para uso egoísta; o desejo grave de tocar e se servir do que os impulsos sensitivos de nosso corpo querem agarrar para si; e o desejo intenso de se tornar alguém importante sem limites, a partir de conquistas individuais e egoístas.

Neste sentido, o filme Tudo pelo Poder desenvolve a maneira como um destes três desejos irreprimíveis acaba incluindo os outros no negócio, até afundar a personalidade humana numa cachoeira de paixões pecaminosas sem freios.

Vemos tal realidade existencial no filme quando a história focaliza os personagens de Clooney e Gosling se relacionando com voluntários e líderes da campanha.

São situações em que a cobiça dos olhos deseja agarrar para si algo – e alguém – que os instintos sensíveis do corpo precisam dominar pelo uso exaustivo, até que tudo se torna uma conquista que glorifica a personalidade orgulhosa numa soberba egoísta que sempre precede a ruína.

Trata-se de uma experiência vaidosa que se torna um círculo vicioso espiritual do qual a humanidade jamais consegue escapar com suas próprias forças – vindo daí a necessidade que temos de clamar a Deus a dupla petição da Oração do Pai-Nosso: contra o Maligno; "e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal".

Ivan Santos Rüppell Jr. é professor de ciências da religião e autor do livro “Resenhas espirituais de meditações cinematogŕaficas” (Edit. Dialética, 2020).

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