• Carregando...
 | Valdenio Vieira/Presidência da República
| Foto: Valdenio Vieira/Presidência da República

Certas efemérides ganham algum sentido quando estimulam reflexões, conectando o passado recente com o futuro próximo, à luz do que enxergamos no presente. Garantia de acerto ninguém pode dar quando fazemos prognósticos, mas estes melhoram muito quando as percepções são mais acuradas. Ainda que as hipóteses sejam múltiplas, tão variadas como aqueles que as formulam, é tentador pensar em bifurcações simplificadoras. Portanto, o número dois aqui é representativo dos ramos principais e alguns elementos essenciais, sem pretender ser completo ou contemplar os infinitos galhos e variantes deles decorrentes.

Do ponto de vista da economia, temos especiais oportunidades para aumentar de forma significativa nosso padrão de produtividade, caminhando em direção a um desenvolvimento econômico que seja sustentável do ponto de vista social e ambiental. Vivemos um acelerado processo de globalização, em que as transações internacionais são, em parte, resultantes do parâmetro produtividade média dos trabalhadores de cada país. Indicadores de produtividade mantêm estreitos vínculos com a capacidade de inovação e a qualidade da educação da população, entre outras variáveis. O Brasil, no comércio global, responde por somente 1,2% das transações, ou seja, menos da metade de nossa participação porcentual de população no planeta, evidenciando nossas fragilidades competitivas ao lado do efetivo potencial de crescimento. No ano passado, houve alta de 18% nas exportações, indicando que podemos escalar posições no ranking global, especialmente se ampliarmos acordos com espaços como União Europeia e Índia.

Aumentar produtividade é, principalmente, melhorar o nível educacional

Aumentar produtividade é, principalmente, melhorar o nível educacional. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa), promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), envolvendo jovens de 15 anos de mais de mais de 70 países, demonstram de forma inequívoca nosso passivo extremado. Classificado em seis níveis, o nível 4 em Matemática é o mínimo indicado para as carreiras tecnológicas, fortemente associadas à capacidade de inovar. No Brasil, somente 4% atingem esse nível, em comparação com 38% na Austrália, 43% no Canadá e 52% na Coreia do Sul.

Do ponto de vista social, temos elementos mais que suficientes para nos convencermos de que o abismo social entre os mais ricos e os mais pobres inviabiliza o desenvolvimento sustentável. Temos, ao longo do tempo, obtido alguns sucessos em aumentar a escolaridade média, na erradicação da miséria e na redução dos índices de mortalidade infantil. Por outro lado, falhamos, e muito, em diminuir a violência, parte dela resultante das citadas disparidades sociais, e, principalmente, em ampliar a qualidade do ensino, com destaque negativo para o ensino médio. As discussões e as aprovações em curso da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representam passos positivos para que pelo menos saiamos da simples constatação do desastre. Mesmo assim, são medidas claramente insuficientes para encaminharmos o complexo tema da qualidade da educação.

Leia também: O futuro do Brasil comprometido (artigo de Jacir Venturi, publicado em 10 de dezembro de 2016)

Leia também: Responsabilidade ou populismo (editorial de 14 de janeiro de 2018)

Quanto à política, teremos as eleições nacionais. A questão passa a ser menos quem as vencerá e mais quão legitimados estarão o novo presidente e seus parlamentares parceiros para implementar aquilo que prometeram na campanha. A melhor perspectiva é um debate equilibrado e racional e, fruto deste, as consequentes escolhas conscientes pela maioria. Entre os temas principais, o papel e do tamanho do Estado. Seja um Estado eficiente e menos intervencionista ou, alternativamente, um Estado amplo, promotor central do desenvolvimento, ainda que em regimes de parcerias com os diversos atores da sociedade. A pior perspectiva seria um debate extremado e irracional, em que, por certo, eventuais vencedores terão opositores ferozes e enormes dificuldades em implementar as propostas que apresentaram nas eleições. As discussões terão sido suficientes unicamente para estimular a militância radicalizada e para convencer uma maioria eleitoral frágil, mas serão incapazes de agregar, no pós-período eleitoral, uma predominância legitimada e substantiva que consiga levar adiante os temas mais relevantes para o país.

Longe de ter o peso dos temas acima, também é ano de Copa da Mundo. De um lado, podemos ser surpreendidos por Suíça, Costa Rica e Sérvia, ficando fora das oitavas, a exemplo de 1966. Por outro, temos o legítimo direito de esperar uma belíssima final com a Alemanha, na qual possamos nos redimir de vez de um passado nem tão distante. Assim como nos assuntos anteriores, não precisamos revidar os 7 a 1 de imediato, mas necessitamos urgentemente sentir que, ao menos, estamos na direção correta, tanto no tempo como no espaço.

Ronaldo Mota é chanceler da Estácio.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]