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Ilustração: Felipe Lima
Ilustração: Felipe Lima| Foto:

As chuvas que assolaram o Rio de Janeiro no início de abril não apenas deixaram famílias entristecidas com a perda de entes queridos ou a destruição de seus bens. Os temporais revelaram também a falta de humanidade em torno dos benefícios da tecnologia. Na tentativa de se deslocar com segurança, parte da população do Rio que optou pelos aplicativos de mobilidade se deparou com preços absurdos – até 400% maiores –, resultado da chamada “precificação dinâmica”.

Balizada pela lógica capitalista de oferta versus procura, a precificação dinâmica é opressora. Se os motoristas se beneficiam por maior rentabilização – e ganham sobrevida em seus rendimentos –, os usuários ficam intimidados pelos valores exorbitantes praticados quando mais precisam.

O preço dinâmico deixa o motorista mal acostumado

Esta prática, que se tornou comum entre os maiores players do setor, afeta especialmente a qualidade do serviço. O preço dinâmico deixa o motorista mal acostumado, enquanto ele poderia (deveria!) ter uma remuneração mais justa durante o dia inteiro, e não apenas diante da alta demanda.

Em um passado recente, quando pouco ou nada se discutia sobre a economia colaborativa, eram frequentes as reclamações acerca da qualidade de atendimento e serviço de taxistas. O advento dos aplicativos que mobilizam motoristas de carros particulares veio na contramão, com a proposta de entregar todas as melhorias que se perderam nos táxis, em especial o conforto e segurança. O que se vê hoje, no entanto, é o exato oposto: seja por política agressiva de descontos, bastante comum na época em que as cooperativas de táxi reinavam, ou pelos abusos da precificação dinâmica, tais decisões atingem diretamente o usuário final.

A solução: equilíbrio – no caso, dos preços adotados, com tarifas justas e, obviamente, a extinção da arbitrária precificação dinâmica. Atualmente, os passageiros são privados em duas frentes: o bom serviço, perdido em meio a guerra de preços; e o uso do aplicativo em momentos de maior necessidade do dia, pelo valor exorbitante.

A adoção de preços equilibrados – muito provavelmente maiores que os exercidos nos períodos de desconto concedido por alguns players do segmento – se mostra o catalisador da profissionalização da categoria de motorista de carros particulares. As vantagens se apresentam para todos: rentabilização dos aplicativos; apoio aos motoristas credenciados em todas as suas necessidades, da manutenção do veículo a benefícios exclusivos; e, na ponta final, um serviço de qualidade ao usuário.

Leia também: Uma lição (e meia) de economia (artigo de Fernando Monteiro D’Andrea, engenheiro e doutorando em Administração, especialista do Instituto Mises Brasil)

Em Nova York, por regulamentação local, há exigência sobre uma receita mínima dos motoristas, o que faz com que o ticket médio de corridas nos aplicativos seja igual ou maior que o táxi nova-iorquino. Neste cenário, a pessoa que opta em prestar tal serviço tende a ser motorista – e não estar, como ocorre no Brasil, onde o turnover é, em média, de quatro meses –, contribuindo para a profissionalização da atividade. O ciclo virtuoso passa por esse apoio mútuo entre os aplicativos e seus credenciados e a natural entrega de um serviço de qualidade, a preços justos.

É fundamental para a competição saudável a independência de ideias e ações de comunicação com o público, mas sempre tendo como guia não somente o bom senso, mas também o lado humano, na definição de um teto de preços para momentos especiais do dia. Somente assim veremos as criações tecnológicas para mobilidade urbana serem revertidas em benefícios práticos para a sociedade, que passará a ter de fato mais uma opção de modal segura e de qualidade.

Armindo Mota Junior é CEO e fundador da empresa de mobilidade Wappa.

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