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Práticas recorrentes que norteiam o planejamento de grandes centros urbanos estão focadas em minimizar impactos negativos para a continuidade do crescimento. Inimaginável, até aqui, alguma prática que estabeleça limites ao tamanho dessas gigantescas concentrações humanas. Uma demonstração de quão rasos são esses planos está na dificuldade em suprir um dos recursos naturais mais fundamentais para todos nós: a água.

São Paulo escolheu o caminho que ignora a necessidade de manter áreas naturais para garantir seu suprimento hídrico, permitindo a ampla degradação das áreas de seu entorno. Quanto mais gente, mais demanda por serviços ambientais e, quanto mais degradação, menos disponibilidade desses serviços. Assim, afundou numa crise histórica.

Entretanto, há casos históricos que buscaram alternativas coerentes para a crise de abastecimento hídrico. No início do século 20, em Nova York, a solução para evitar racionamento de água, altos custos de tratamento e maiores restrições para o desenvolvimento foi a proteção sistemática de áreas naturais. Através de contínuas aquisições ou contratos com proprietários, regrando o uso de suas terras, centenas de milhares de hectares passaram a ser protegidos. Tudo isso com investimentos realizados pela instância mais interessada, a partir de acordos nos municípios lindeiros, a uma distância que supera os 200 quilômetros da cidade.

Outras grandes cidades vivem seus dramas particulares. Curitiba é elogiada pelo seu planejamento urbano. Mesmo assim, a cidade não para de crescer, em especial se consideramos o que acontece hoje na região metropolitana. Crescer indefinidamente é, sem nenhuma dúvida, a aposta em prática. Sendo assim, o que impede Curitiba de virar uma nova São Paulo em alguns anos?

Crescer indefinidamente é, sem nenhuma dúvida, a aposta em prática. Sendo assim, o que impede Curitiba de virar uma nova São Paulo em alguns anos?

Uma proposta de um novo caminho pode estar no uso de estratégias que deram certo em outras grandes cidades. É preciso poder de decisão para investir já, e em escala, no apoio à região metropolitana. E, assim, permitir que áreas suficientes sejam conservadas e restauradas. Com essa prática, nas próximas décadas não haverá momentos de crise sem controle em relação à água na Grande Curitiba. Nem a expansão urbana alcançará espaços indevidos, permitindo um arranjo mais equilibrado entre áreas mais e menos concentradas.

A criação do Fundo Metropolitano para a Conservação de Áreas Naturais para a Grande Curitiba é uma necessidade que já vem sendo discutida. Só não foi efetivada ainda em função da percepção limitada das instâncias responsáveis, que pensam no problema da água apenas a partir de campanhas de inibição do consumo e na construção de grandes obras de captação. Cabe ressaltar que a água custa caro e a população tem cada vez mais motivos para não esbanjar o que paga do seu bolso. E, em muitas regiões do mundo, as grandes barragens nos centros urbanos que não cuidam de seus mananciais simplesmente estão vazias. A estratégia é imperfeita e insuficiente, como se pode notar. Falta o óbvio, embora quase sempre ignorado.

Mesmo com as polarizações na esfera política, há uma obrigação dos atuais gestores em demonstrar capacidade de interesse cívico e visão estratégica. Como se vê hoje em São Paulo, a natureza não perdoa nem incautos, nem irresponsáveis.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
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