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No dia 18 de dezembro fomos surpreendidos com a confirmação dos rumores de que o até então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixaria o cargo. Apesar dos inúmeros boatos em 2015, o ministro parecia seguro, já que possui as qualidades técnicas necessárias para colocar a casa (fiscal) em ordem.

Porém, nem só de capacidade técnica é feita a política econômica. Joaquim Levy bem que tentou trocar o pneu do caminhão fiscal sem parar. Iniciou sua gestão prometendo um superávit fiscal de 1,2% do PIB. Não entregou. A bagunça nas contas fiscais não mostrava o real tamanho do problema. Em meados do ano, houve mudança da meta de superávit para 0,15%. Também naufragou!

Fecharemos o ano com um déficit de 1% a 2% do PIB. Um desastre para quem precisa reverter a dinâmica da dívida pública, já que o pagamento de juros é muito alto. E pior: o corte de gastos feito para tentar equilibrar as contas – investimentos públicos que chegam a patamares historicamente mínimos – mina nosso crescimento futuro.

Barbosa é corresponsável pelo desarranjo econômico iniciado ao final de Lula II e intensificado durante Dilma I

Apesar de todos os problemas enfrentados ao longo do ano, Levy contava com o apoio e confiança do mercado – as reações da bolsa e do dólar quando foi nomeado e demitido demonstram tal fato –, tanto pelas credenciais profissionais e pelo histórico no setor público quanto pela busca por boas notícias em um mar de tragédias econômicas no Brasil.

A troca de ministros não deve trazer melhora nem no ambiente, nem nas expectativas econômicas do Brasil. Ela poupa Levy de manchar seu currículo após uma passagem frustrada pelo Ministério da Fazenda, quando não obteve apoio para as reformas necessárias na direção de uma rota fiscal sustentável.

Seu substituto, Nelson Barbosa, conta com o apoio da base do governo, o que faltava a Levy. Parece ser um passo para a frente – unirá a base em votações de pacotes econômicos. Porém, a indicação de Barbosa não traz perspectivas de dias melhores. E pode piorar o já delicado quadro.

Barbosa é corresponsável pelo desarranjo econômico iniciado ao final de Lula II e intensificado durante Dilma I. Uma criatura que teve alto custo, nenhum retorno e com medidas difíceis de serem revertidas politicamente. Intervenções pontuais que gerariam um boom econômico nos custaram uma dinheirama e o resultado está posto. Difícil crer que Barbosa e sua equipe mudaram de pensamento e nos trarão a solução no curto prazo.

O perfil acadêmico, o passado como policymaker de Barbosa e os alertas da presidente – esforços para fazer o Brasil crescer – indicam que a direção da política econômica deve focar na insistência de que o Brasil precisa crescer para não ter de realizar um ajuste fiscal duro. Bonito discurso. Na prática, impossível. E ainda veremos tentativas de gerar boas expectativas só no grito. Isso só funciona para quem tem muita credibilidade. Não é o caso de Nelson Barbosa.

A tentativa de realizar um ajuste fiscal mais gradual, menos intenso que o proposto por Levy, nos trará um resultado capenga: ajuste fiscal incompleto que não atacará os problemas estruturais das finanças públicas e um crescimento econômico pífio. Como o diagnóstico de Barbosa e sua equipe para nossos problemas é a falta de crescimento (e não o desarranjo fiscal), algumas intervenções e estímulos devem dar o tom da política econômica.

Politicamente, Barbosa pacifica o PT. Economicamente, voltamos algumas casas, considerando que é improvável que o criador abandone sua tão querida criatura! Torcemos para estarmos errados.

Arthur Solowiejczyk é economista pela Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV). Leonardo Palhuca é mestre em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Ambos são colaboradores do site Terraço Econômico.
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