Não nos soam estranhas as metáforas utilizadas pelo papa Francisco para que todos possam compreender a mensagem do evangelho. Uma que mais nos chama atenção é a que usou dirigindo-se aos bispos: “o pastor deve sentir o cheiro das ovelhas”. Uma Igreja com o “cheiro das ovelhas” é aquela que se insere nas alegrias e esperanças das pessoas e anuncia, de um modo atualizado, a mensagem de Jesus. E é justamente essa a primeira intenção do Concílio Vaticano II, o maior evento da Igreja Católica do século 20 e que, neste ano, celebra seu cinquentenário de encerramento.
Do latim, concilium significa “assembleia” e designa a própria natureza da Igreja: uma assembleia convocada pelo Pai, no Filho, pelo Espírito Santo. Um concílio trata-se não apenas de uma “reunião de negócios” ou um “encontro de gestão”; aliás, o verbo mais exato para designar esse acontecimento é “celebrar”: celebrar o Concílio.
Convocado por João XXIII e encerrado por Paulo VI, teve quatro grandes sessões: 1962, 1963, 1964 e 1965. A grande intenção do Concílio está expressa no discurso de abertura de João XXIII: Uma coisa é a substância do depositum fidei, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais correspondam ao Magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.
A grande intenção do Concílio está expressa no discurso de abertura de João XXIII: Uma coisa é a substância do depositum fidei, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas
Esse papa forneceu o tom do Concílio: apresentar à humanidade a Boa Nova de Jesus Cristo de maneira inteligível, ou seja, adaptada à realidade; promover – nas palavras do próprio papa – um aggiornamento, que se torna perceptível no proêmio da Constituição Sacrosanctum Concilium: O sagrado Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições suscetíveis de mudança, promover tudo o que possa contribuir para a união de todos os que creem em Cristo; e fortalecer o que pode ajudar a chamar todos ao seio da Igreja.
Reunindo mais de 2,5 mil bispos, o Concílio Vaticano II produziu 16 documentos, os quais orientam o agir da Igreja Católica. Diante da grandeza desse acontecimento, o Grupo Marista organizou um dossiê de entrevistas, reunindo participantes do Concílio e pesquisadores do tema, com objetivo de oferecer à Igreja do Brasil e à sociedade um subsídio audiovisual que forneça uma chave de leitura para nos aproximarmos dos textos conciliares. Além disso, atende também aos apelos da Campanha da Fraternidade (proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que tem como lema “Eu vim para servir” (Mc 10, 45), e como tema a relação entre Igreja e sociedade, discutida no Concílio Vaticano II. Ao todo foram mais de quatro horas de documentário, mais de 100 pequenos vídeos com temáticas específicas e 28 entrevistados – cerca de 32 horas de entrevistas disponíveis na íntegra e gratuitamente em www.virtheos.org.
Ao propor este trabalho, que é compartilhado com os 450 bispos de todo o Brasil, as (arqui)dioceses, o papa emérito Bento XVI e o papa Francisco, esperamos que todos, à luz do Concílio, possam viver as alegrias e as esperanças de nosso tempo para oferecer a todos aquilo que de melhor a Igreja possui: o Evangelho.
