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Vale-refeição: o vilão que devora o bolso do trabalhador

ICMS restaurantes
Imagem ilustrativa. (Foto: Marcelo Camargo / Arquivo / Agência Brasil)

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O setor representado pela Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) tem enfrentado desafios significativos, desde os impactos da pandemia da Covid-19: elevada tributação sobre a folha de pagamento, energia cara (sem contar os apagões constantes), dólar em alta e seu reflexo na agricultura, além de inflação no topo da meta e com direito à pressão no preço dos alimentos. Como se tudo isso ainda não fosse suficiente, um grande vilão tem sido, há anos, uma pedra no sapato das empresas do segmento: as taxas cada vez mais abusivas do vale-refeição.

Em tempos de crise, a marmita comercializada no varejo (e que caiu, definitivamente, no gosto do brasileiro) e o popular prato feito têm sido alternativas eficazes e práticas, além de mais econômicas e, por isso, mais acessíveis aos trabalhadores – muito mais do que preparar a refeição em casa, por exemplo.

Se o governo federal quiser, realmente, baratear os preços dos alimentos, precisa enfrentar o vilão de frente, ou seja, as taxas do vale-refeição. Isto porque, diferentemente do que alegam as operadoras — elas falam em 4% — na prática, e em verdade, chegam a absurdos 14%, com todos os 'penduricalhos' inerentes à atuação

Recente pesquisa da Fhoresp revela que, nos últimos três anos, mesmo diante de tamanhas adversidades, restaurantes e bares ficaram com preços 14,4% abaixo dos aumentos promovidos nos produtos nas prateleiras dos supermercados. Trata-se de um esforço que reflete o compromisso do setor em proteger os consumidores de aumentos excessivos. Para o segmento, o que mais emprega no Brasil, segurar os preços do cardápio, para não encarecer ainda mais o custo da refeição ao cliente final, compromete as já estreitas margens de lucro, especialmente nos restaurantes populares.

Se o governo federal quiser, realmente, baratear os preços dos alimentos, precisa enfrentar o vilão de frente, ou seja, as taxas do vale-refeição. Isto porque, diferentemente do que alegam as operadoras — elas falam em 4% — na prática, e em verdade, chegam a absurdos 14%, com todos os “penduricalhos” inerentes à atuação. É por isso que, cada vez menos, restaurantes aceitam pagamento desta natureza, transformando o mesmo num, digamos, “mal necessário”.

É preciso reduzir taxas como esta em tela, drasticamente; abrir o mercado para a competição saudável; criar regras de interoperabilidade para as gestoras destes benefícios; e, especialmente, autorizar a Caixa Econômica Federal (CEF) a operar na área, sem exclusividade, mas como uma espécie de player reguladora. Seria, assim, uma tentativa de moralizar este expediente.

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Para se ter uma ideia, este mercado ficou tão sem controle, que até é possível ter taxas próximas das sugeridas pelas operadoras (acrescidas dos penduricalhos). Todavia, é necessário que o restaurante se torne membro de alguma associação do setor. Que fique claro: esta não é uma crítica a essas entidades, que, de alguma forma, buscam proteger seus associados. Contudo, além de causarem concorrência desleal, retratam a distorção do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) – política pública federal instituída em 1976, que concede incentivos fiscais e que deu origem ao vale-refeição e ao vale-alimentação no Brasil.

A desestruturação do PAT é tanta que, até pouco tempo atrás, as altas taxas cobriam até o “rebate”, ou seja, as gestoras davam “desconto” para grandes empresas as contratarem. Este conjunto de práticas deletérias deixa o próprio trabalhador, destinatário do “benefício”, no prejuízo, pois o restaurante precisa repassar os custos disso à refeição.

O compromisso em entregar serviços de excelência e com valor acessível não apenas torna a alimentação fora de casa uma necessidade, mas, sim, uma escolha que valoriza a qualidade de vida e promove um futuro sustentável para restaurantes, bares e seus consumidores.

Edson Pinto é diretor executivo da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp); presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares de Osasco, Alphaville e Região (SinHoRes); mestre em Direito, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP); e autor do livro “Lavagem de Capitais e Paraísos Fiscais” (Editora Atlas).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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