A reiterada prática de crimes violentos que atinge não apenas a cidade de Curitiba, mas todo o Brasil, deixa em alerta as autoridades responsáveis pela segurança pública, pela persecução penal e pela realização da Justiça Criminal.
O Ministério Público, em todo o país, tem trabalhado efetivamente no combate às organizações criminosas que diariamente fazem vítimas em todos os estados. Grupos Especiais são criados na busca de aperfeiçoar e realizar medidas eficazes para a inibição de crimes dessa natureza. Temos, por exemplo, o Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC), surgido com a finalidade de organizar ações integradas entre os diversos Ministérios Públicos para o enfrentamento da criminalidade organizada. Nessa tarefa, não são raros os promotores de Justiça que, destemidos e atuantes na área criminal, sofrem limitações na vida pessoal e suportam riscos à própria segurança, para que se possa obter um quadro probatório robusto na apuração de crimes graves, garantindo, desta forma, a responsabilização penal de seus autores.
Entretanto, não é mais possível acreditar que somente a repressão ao crime pelo Estado dever que esse jamais deverá abdicar ou descuidar dará resultados peremptórios à redução da violência que cerca o país e que cresce a cada dia.
Penso ser indispensável o envolvimento da sociedade neste contexto, iniciando-se com a própria reflexão das famílias sobre a forma de educação na infância e adolescência de seus filhos. Independentemente da classe social ou cultural, creio que é preciso incutir-lhes princípios sólidos e mostrar-lhes o valor da dignidade e honestidade. Para isso, é essencial que a família esteja presente na infância e na juventude. E essa presença não apenas compreendida no sentido de contato diário, em "quantidade", mas especialmente em "qualidade", em participação direta nos momentos com aqueles a quem devemos educar, abrindo sempre o diálogo, transmitindo amor, autoconfiança, repassando relatos de experiências positivas.
Essa "presença de qualidade" é muitas vezes menosprezada, em virtude do desconhecimento da importância dessa atitude, pelas dificuldades diante de precária condição econômica ou mesmo pela preocupação excessiva apenas com a formação cultural da criança e do adolescente, em detrimento da formação moral. E ao Estado cabe, sob esse prisma, propiciar orientação, apoio e condições de planejamento e desenvolvimento familiar estruturado.
Com esse suporte, a base familiar, responsável num primeiro momento pela formação de caráter e personalidade, permitirá que as crianças, ao se tornarem adultas, tenham a força e a coragem de enfrentar adversidades e más influências. Acredito que essa base lhes dará meios para afastar-se das drogas, das armas e da violência em geral, constituindo-se, assim, em meio eficaz de redução da criminalidade e de diminuição de profundas tristezas.
Enfim, dentro de suas esferas de atribuições e responsabilidades, entendo que cada um de nós deve agir com consciência da importância de nossas ações essa é a postura que pode gerar uma união de esforços que realmente culmine em uma sociedade menos violenta e mais segura.
Rosangela Gaspari é promotora de Justiça e atualmente trabalha no Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais e de execuções Penais do Ministério Público do Paraná.



