Tenho pensado muito nesta pergunta, que na verdade tem um ponto crucial: a felicidade existe? Agora, já são duas perguntas, e depois surge a terceira naturalmente, a mais difícil de responder: o que é a felicidade?
Um convite para falar sobre "felicidade" me provocou esses questionamentos. Gelei! Afinal, a velha formula de apresentar filmes publicitários não seria suficiente. Meu desafio era compreender de que forma as marcas participavam, ou não, efetivamente da vida das pessoas. Foi uma experiência gratificante e diferente pensar a partir das pessoas, dos seus vazios emocionais a causa de boa parte das euforias consumistas. Refletir por que a necessidade de beber água acaba gerando o desejo de tomar um refrigerante gelado.
As palestras sempre geram mais ganhos para o palestrante que para a plateia. Cresci escutando meu pai dizer "quem ensina aprende duas vezes". Sabia que não poderia inundar minha apresentação de teorias, gráficos, setas. Era necessário ir mais fundo, porque a vida de todos é feita de verdades. Queiramos ou não, o impacto das circunstâncias, do contexto no qual estamos inseridos, em nenhum momento deixa de ser capturado pelo nosso radar. O inconsciente está gravando tudo, todo o tempo, e muitas das nossas respostas vêm dele. Buscamos o melhor, sempre!
O 31 de dezembro é a maior expressão da busca coletiva de esperança do planeta. Ou você já viu alguém pedir que não aconteça nada de melhor no ano que vai nascer? Felicidade é a soma de momentos felizes, e momentos felizes são aqueles em que nos sentimos vivos, amados, compreendidos, abençoados e acarinhados pelo bem.
Comprar um carrão não deixa ninguém feliz, assim como comprar uma supercozinha. Quem disse que as pessoas estão comprando o que é produzido nas fábricas? Elas compram a esperança de serem vistas num carrão, de terem mais carinho e boas conversas dentro de uma cozinha a qual, por sinal, segundo pesquisas, é o mais importante espaço da casa. As pessoas compram esperança. O Félix da novela das nove arquiteta mil planos porque quer ser amado e reconhecido pelo pai. Desconsidere o personagem caricato e seja sincero: você quer algo diferente de ser reconhecido e desejado? No fim do dia, o que vale são os afetos que damos e recebemos, ter relações calorosas, que nos protegem da solidão e nos tornam mais tranquilos.
Está na hora de a propaganda construir mais significados para as marcas, tranformando-as em instrumentos, palcos para que as pessoas não os consumidores possam fazer acontecer seus desejos, sonhos e uma menor solidão.
A primeira coisa que ficou clara para mim era que, para falar sobre a felicidade, precisava compreender que uma vida sem significados é como deserto árido. Não respira, não se emociona, não constrói afetos. As relações, mais que ocupar o tempo, são o verdadeiro alimento da alma e do coração.



