No Paraná, 1.643 instituições privadas de ensino atendem a 600 mil alunos da educação infantil ao ensino superior, o que corresponde a 14,3% das matrículas na educação básica e aproximadamente 76% nas faculdades. É um setor altamente competitivo e plural. Quer pelo repasse de conteúdos, quer pelo repasse de valores, é responsável pela formação de grandes líderes e de muita "gente boa" como amiúde gosta de reiterar o irmão Clemente, reitor da PUCPR , numa expressão singela e feliz para indicar a formação holística do educando (holístico tem etimologia no grego holus, que significa todo, completo).
Em comparação com outros estados, os colégios particulares do estado ficaram bem posicionados no último Ideb: na 1.ª colocação, em empate com Minas Gerais, no ensino médio; e em 3.º lugar no ensino fundamental.
Como em outros setores da economia, vivemos de ciclos. O gráfico é o de uma senoide, com seus altos e baixos. Nos últimos três anos, temos motivos para espocar champanhes, pois o crescimento em matrículas foi significativo: 19,3%. Como contrapartida à queda na taxa de natalidade, prospera uma nova classe média de brasileiros que têm como segunda maior prioridade matricular os filhos numa escola privada percebida como a melhor estratégia de ascensão social (a primeira prioridade é a alimentação).
No entanto, a eufórica fartura de crédito em 2010 e 2011 insidiosamente promoveu dívidas elevadas na população: 22% da renda das famílias está comprometida com dívidas, um índice inédito na história do país, e isso pode significar maior inadimplência e estagnação nas matrículas. Temos nossos legítimos interesses, pois cotidianamente convivemos com um cipoal de normas e leis, e uma escola-empresa é tributada em quase um terço de sua receita, penalizando assim duplamente os pais.
E a mãe de todas as batalhas se trava em Brasília, em que parte do Congresso e parte do MEC estão entranhados em uma ideologia arcaica, intervencionista e hostil. Um exemplo concreto e atual é o projeto de lei que cria um novo instituto, o Insaes uma excrescência que, além de elevar nossos custos, permitirá brechas para arbitrariedades. Se é para acabar com os picaretas que infelizmente existem em nossa atividade, que se apliquem as normas legais existentes.
"A escola é a nova riqueza das nações. Passou a valer mais que a fábrica, o banco, a fazenda", diz Peter Drucker, renomado consultor americano. A nossa matéria-prima é a mais nobre que existe na face da Terra: nossas crianças, adolescentes e jovens. Pergunto, porém: que sociedade pode permanecer impassível ao reconhecer que, dos seus 50 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar, 3,5 milhões estão fora da escola? E que uma parcela significativa desses 50 milhões recebe um ensino sofrível que só corrobora com as estatísticas dos analfabetos funcionais?
Todos têm um compromisso maior: educação de qualidade, não importa se pública ou privada divisionismo retrógrado, antipatriótico, que só faz perdedores. Numa análise racional, há muito que nos une e pouco que nos divide. Não é enfraquecendo a escola particular que se fortalecerá a pública, e sem escola pública de qualidade jamais seremos uma nação com justiça social.
O Sinepe/PR acolhe uma categoria econômica na prática composta de colégios, faculdades e universidades, concorrentes entre si; apesar das divergências, a maior riqueza de uma sociedade está na pluralidade de suas escolas públicas, confessionais, comunitárias ou laicas. São diversas, mas não necessariamente adversárias.
Jacir J. Venturi, professor e diretor de escola, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).



