Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Editorial

As punições no mensalão

A notícia de que o ex-deputado Roberto Jefferson erson bateria às portas do Supremo Tribunal Federal, reivindicando a devolução do mandato que lhe foi cassado pela Câmara Federal na esteira do escândalo do mensalão, soa como esquisitice de fim de ano a que faltam requisitos de seriedade. A sociedade brasileira – já incomodada com o fato de que até agora só foram afastados dois parlamentares envolvidos no desvio ético denunciado pelo próprio Jéferson e a circunstância de absolvição de um terceiro, pronunciado pelo Conselho de Ética – sentiria profundo desagrado com a reabertura do caso.

Tanto o parlamentar carioca quanto o ex-ministro José Dirceu, mais os que renunciaram para escapar da cassação, foram alcançados por uma sanção de natureza política; convencidos seus pares e a opinião pública de que violaram o decoro parlamentar ao se envolverem no episódio de suborno – comprometendo a delegação que lhes fora confiada pelo povo. Por isso, assegurada a observância de procedimentos básicos do contraditório e do direito à defesa, cessa a possibilidade de os tribunais reabrirem o caso, em respeito à separação dos ramos do poder democrático inscrita em nosso pacto fundamental.

A esta altura, a partir das denúncias formuladas em junho pelo ex-deputado Jéferson e depois de investigações e depoimentos conduzidos por uma CMPI em funcionamento no Congresso, não cabe dúvida quanto ao comportamento ilícito daqueles políticos. A justificativa de que aceitaram recursos do valerioduto para saldar dívidas anteriores de campanha não declaradas, ou seja, recursos não contabilizados de caixa 2, não basta para eximi-los da responsabilidade. Em sua obra clássica sobre a vocação do homem público, Max Weber considerava a separação de fins e meios na atividade política uma tensão permanente para os atores políticos, advertindo que "nenhuma ética pode dizer em que momento e em que medida um objetivo moralmente bom justifica meios moralmente perigosos".

Considerado em conjunto, o sistema político brasileiro – da Presidência da República aos tribunais superiores – deve rejeitar qualquer possibilidade de endosso à conduta ilícita dos membros do parlamento envolvidos com o escândalo do mensalão. Já "o Poder Legislativo precisa estar atento para o fato de figurar como a instituição de menor prestígio aos olhos da população, o que não é saudável para o país" – pontifica o professor Cláudio Gonçalves Couto, da área de Ciência Política da PUC-SP – "por ser impossível um regime democrático sólido sem um parlamento forte e respeitável".

Ainda na arena política, vai se firmando a tese de que a verticalização, que obriga os partidos a manterem nos estados a coligação feita em nível federal, é positiva para o fortalecimento das instituições da nossa jovem democracia. O Congresso tentou e não conseguiu derrubar a regra interpretada pela Justiça Eleitoral, sendo possível que ela se consolide, ao lado da cláusula de barreira, para gerar partidos efetivamente nacionais.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.