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As relações entre o que passa por Estado e as grandes empresas, no Brasil, são há muito tempo um contubérnio incestuoso que só agora começa a ser vislumbrado, graças à Operação Lava Jato e às prisões de empreiteiros. A coisa, no entanto, não acaba por aí: os interesses da população são sempre deixados de lado em prol do lucro de quem tem compadres no poder. O poder vem das empresas – independentemente da legalidade de doações de campanha, uma gota no oceano de dinheiro que circula – e a elas volta, e o bem do povo é apenas uma desculpa demagógica para todo tipo de negociata.

Tomemos por exemplo a Samarco, cuja incompetência provocou várias mortes, a destruição completa de um bairro de Mariana (MG) e neste momento varre, numa onda de lama, as margens do Rio Doce, deixando várias cidades sem água e destruindo todas as formas de vida que dependem do rio. No Espírito Santo e em Minas Gerais, suas atividades usuais espalham um fino pó preto de minério pelo ar, sujando tudo e envenenando a população. A coisa é tida por normal, e as donas de casa trocam dicas de como limpar o pó preto, como se ele não tivesse dono. Os governantes, a quem caberia proteger o povo, simplesmente ignoram o problema: dá mais dinheiro, mais poder, estar do lado de uma megaempresa que do povo.

Importa devolver à população o poder usurpado dela pelos que se dizem seus representantes e pelo que passa por Estado

Ainda no Espírito Santo, a erosão do solo causada pelas plantações de eucalipto da Aracruz Celulose produz tamanha devastação que a cor marrom do mar pode ser vista até mesmo em fotos de satélite. A população, como sempre, que sofra as consequências. Os exemplos são muitos.

A relação entre políticos e empreiteiras, que está começando a vir à luz, é ainda mais próxima, por tocarem estas as obras que aqueles votam. O que dificilmente se aponta, contudo, é que a iniciativa é das empreiteiras, não dos políticos: as obras são vendidas por elas a eles, não o contrário. São elas que decidem qual obra deve ser feita, convencendo (via de regra, pela promessa de um porcentual) os supostos representantes do povo a propor a obra e votá-la, e em seguida organizam as coisas para que a licitação já tenha ganhador certo antes mesmo de ser feita. Não é novidade alguma: meu falecido pai, que trabalhava numa dessas empreiteiras de dono preso, já me explicara décadas atrás como a banda toca.

O nome técnico desse tipo de sistema é “capitalismo de compadrio”, ainda que se tenha tentado transformá-lo numa espécie de “socialismo de compadrio” nos últimos 12 anos, ao aumentar a sangria e desviar para o Partido o grosso da verba ilegal.

Não importa o nome: importa devolver à população o poder usurpado dela pelos que se dizem seus representantes e pelo que passa por Estado. O povo não pode ser mera desculpa para roubalheiras.

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