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A paz é, antes de tudo, obra da justiça. Ela supõe e exige a instauração de uma ordem justa, na qual as pessoas possam realizar-se como seres humanos, sua dignidade ser respeitada, suas legítimas aspirações serem satisfeitas, seu acesso à verdade reconhecido, sua liberdade pessoal garantida. Uma ordem na qual os homens não sejam objetos, senão agentes de sua própria história. A tranquilidade da ordem, da paz, não é, pois, passividade nem conformismo.

Não é, tampouco, algo que se adquira de uma vez por todas: é o resultado de um contínuo esforço de adaptação às novas circunstâncias; às exigências e aos desafios de uma história em mutação. Uma paz estática e aparente pode ser obtida com o emprego da força; uma paz autêntica implica luta, capacidade inventiva, uma conquista permanente. A paz não se acha, constrói-se.

O cristão é um artesão da paz. Esta tarefa, dada a situação descrita anteriormente, reveste-se de um caráter especial. O povo, seguindo o exemplo de Cristo deverá enfrentar com audácia e valentia, o egoísmo, a injustiça pessoal e coletiva, a falta de segurança aos cidadãos e cidadãs. A paz é fruto do amor, expressão de uma real fraternidade entre os homens e mulheres. Fraternidade traduzida por Jesus Cristo, Príncipe da Paz, ao reconciliar todos os homens com o Pai.

A solidariedade humana não pode se realizar verdadeiramente senão em Cristo, que dá a paz que o mundo não pode dar. O amor é a alma da justiça. O cristão que trabalha pela justiça social deve cultivar sempre a paz e o amor em seu coração. A paz com Deus é fundamento último da paz interior e da paz social. Por isso mesmo, onde a paz social não existe, onde se encontram injustiças, desigualdades sociais, políticas, econômicas e culturais, há um rechaço do dom da paz do Senhor, e ainda mais, um rechaço do próprio Senhor.

Queremos viver num país seguro, mas não a custas apenas de uma ordem social repressiva. A segurança que almejamos para o nosso país não virá nem da adoção da pena de morte nem do exército nas ruas, mas brotará do pão das mesas, da terra partilhada, do trabalho com dignidade, da igualdade de oportunidades, de saúde e de educação para todos. A segurança que desejamos virá de um trabalho longo de educação para uma cultura de paz, que transforme a mente e a prática das pessoas e grupos, ajudando-os a descobrir os instrumentos da não violência e da reconciliação para fazer face à violência e à injustiça. Queremos aquela segurança que seja conseqüência de um processo amplo de democratização.

A violação é muda e é inerte: só o resgate pleno da condição humana, do dizer sua palavra e recuperar sua dimensão política de transformar situações podem ser o suporte de uma ação eficaz na linha da segurança pública. A segurança que propomos passa também por uma renovação e transformação das instituições ligadas à segurança, por uma justiça mais ágil, por adoção de práticas de justiça restaurativa, pela mudança do sistema penitenciário, por uma polícia menos militar e mais cidadã, pelo fim da corrupção. Queremos viver num país onde segurança pública seja também um ato de fraternidade.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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