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No Evangelho de hoje encontramos os sete terríveis: "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas" (Mt. 23,1-12). Quem lê esse trecho fica impressionado com a linguagem dura de Jesus e se pergunta por que ele usa palavras tão fortes.

Ademais, lendo algum livro de história sério que fale dos fariseus, descobre-se que não eram pessoas marcadas com tanto defeitos quantos o Evangelho lhes assaca.

Eram pecadores, com certeza, como todos nós o somos, mas é com certeza muito difícil identificá-los na "caricatura" que deles faz Mateus. E mais ainda: que sentido tem um desabafo contra os fariseus de dois mil anos atrás? Mesmo que tenham sido tão perversos, por que falar deles agora?

O trecho de hoje não pretende estimular ninguém a maldizer pessoas falecidas há dois mil anos, mas sim provocar a reflexão para verificar se os "fariseus" não são talvez "imortais", isso, se ainda não estão bem vivos ainda hoje.

Para descobri-los comecemos por responder a uma pergunta importante: a quem dirige Jesus, os seus sete terríveis: "Ai de vós..." Logicamente aos escribas e fariseus de seu tempo. Mas não é assim! Justamente, no primeiro versículo do Evangelho de hoje, Jesus se dirige "aos seus discípulos" É para os discípulos que há o perigo de serem "fariseus".

Somos nós que nos devemos sentir atingidos pelas palavras do Mestre. Como descobrir se somos "fariseus"? É suficiente verificar quais são suas características e conferir se por acaso elas se encontram em nós.

É fariseu, primeiramente, quem ocupa uma cadeira que não lhe pertence. O Livro do Deuteronômio diz que os sucessores de Moisés, os encarregados de transmitir a palavra de Deus ao povo, são os profetas. O que fazem, ao invés, os escribas e fariseus? Ocupam um lugar que não lhes pertence. Substituem a mensagem profética por suas normas, por suas regrinhas, por suas interpretações rigorosas.

Se ainda hoje algo semelhante acontece, se ainda há quem ocupe cargos que não lhe competem, se há ainda quem substitua a profecia com a imposição de normas e preceitos... Então estamos diante da primeira prova de que os "fariseus" são "imortais".

A segunda característica do fariseu é a incoerência. Ele é uma pessoa que diz, mas não faz. Externamente se apresenta como um homem religioso, alguém que faz questão de proferir palestras bonitas sobre o amor, sobre a paz, sobre o respeito para com os outros, mas depois, quando ninguém o vê... Existem em nossas comunidades pessoas assim?

A terceira característica dos fariseus é o de sobrecarregar pesos insuportáveis nas costas dos outros. Eles inventam uma religião cheia de leizinhas e de regrinhas. Na realidade elas servem somente para tornar a vida impossível, tiram a liberdade e a alegria.

A quarta característica do "fariseu" é o exibicionismo. Eles querem que os outros saibam que são pessoas diferentes dos outros. Hoje ainda não desapareceu o desejo de atrair sobre si os olhares do povo.

A última parte do Evangelho de hoje nos alerta contra perigo grave de permitir a entrada na comunidade cristã de qualquer forma de desigualdade.

Dom Moacyr José Vitti, CSS é arcebispo metropolitano de Curitiba.

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