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O Evangelho deste Domin­­go não situa a aparição de Jesus num domingo, mas num dia de semana, pois a aparição ocorre enquanto os discípulos estão entretidos no trabalho, pescando. Significativo o número dos ocupantes da barca: são sete. Este número indica a perfeição, a totalidade. O mar era para os israelitas o símbolo de todas as forças inimigas do homem. Desde o começo Jesus tinha dito aos seus discípulos que se tornariam "pescadores de homens". "Sua missão seria a de enfrentar as "ondas" do mar para "pescar" os homens, para tirá-los das águas, para livrá-los de todas as situações negativas que os impedem de ser livres, de amar, de planejar uma vida feliz. O Ressuscitado não está na barca. Ele já alcançou à margem, a terra firme, a situação definitiva para a qual estão se dirigindo também os discípulos que ainda se encontram na barca.

Mas de fato terão eles sido abandonados? Jesus foi para o céu e os dei­­xou enredados nos perigos e di­­ficuldades do mundo? Deverão cumprir a própria missão de " pescadores de homens" contando ex­­clusivamente com sua própria ca­­pacidade e com suas próprias forças? Há o perigo também conosco de pensarmos que ficamos sozinhos e agirmos conforme esta convicção. Acontece com frequência que nos envolvemos em atividades, elaboramos projetos, organizamos programas na certeza de que nossas iniciativas serão plenamente coroadas de êxito. Vem de­­pois o desencanto! Constatamos o fracasso das nossas melhores iniciativas e desanimamos. Repete-se conosco o que aconteceu com os sete discípulos, dos quais nos fala o evangelho de hoje. Eles durante a noite inteira trabalharam, deram tudo de si, mas não conseguiram nada. Por quê? Pelo mesmo motivo pelo qual, tantas vezes, os nossos esforços são inúteis: não são vivificados pela palavra do Ressuscitado. Quando, ao amanhecer, eles prestam atenção à palavra que lhes chegam da margem, quando se­­guem as orientações de Jesus, quando confiam nele, eis o milagre: contra qualquer lógica humana, contra qualquer perspectiva fundada, conseguem um resultado surpreendente. Não está acontecendo a mesma coisa conosco hoje? Os Apóstolos tinham permanecido na companhia de Jesus du­­rante três anos. Tinham-no visto, ouvido, tocado. Depois tudo acabou.

Certo dia desapareceu da vista deles. Mas terá sumido mesmo? Não! Mudou a sua forma de estar presente. Mas não é fácil para eles aceitar esta nova situação, ter certeza de que o Ressuscitado está no meio deles, entender que está ainda mais perto do que antes. O Evangelho de hoje nos apresenta esta dificuldade experimentada por eles, este árduo caminho da fé a ser percorrido. A experiência da comunidade primitiva é semelhante à nossa. Nós também devemos entender que Jesus, embora estando na " margem", isto é, na glória do Pai, está sempre conosco, todos os dias, até o fim do mundo.

A fé nos conduz à certeza de que Ele continua fazendo ouvir a sua voz, chamando-nos, falando-nos, indicando-nos o caminho a seguir. Cristo ressuscitado vive agora com o Pai, mas não abandonou os seus discípulos, continua presente, orienta-lhes a vida e as atividades com sua Palavra.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo Metropolitano

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