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O Evangelho de hoje nos apresenta duas pequenas parábolas: a do sal e a da luz. Na primeira, Jesus apresenta os seus discípulos como sal da terra. Essa expressão pode ter muitos sentidos. Para que serve o sal? Para dar sabor aos alimentos. Por isso desde os tempos antigos se tornou símbolo da "sabedoria". Muitos, ainda hoje, dizem que uma pessoa tem "sal na cabeça", quando fala de maneira sensata ou dizem que uma conversa "está insossa, ou sem sal", isso é, sem graça, pouco agradável, sem conteúdo. Interpretada nesse sentido, a expressão de Jesus quer dizer que os seus discípulos devem ser aqueles que proferem discursos que dão sabor à vida dos homens.

Sem a sabedoria do Evange­­lho, que sentido teria a vida? Qual seria o objetivo da existência: ter prazeres, diversões, dinheiro e tantas coisas mais? Que explicações teríamos para a alegria e para a dor? Que esperanças nos ajudariam para superar as dificuldades? O cristão é sal porque consegue dar sabor e sentido a tudo aquilo que acontece, difunde uma palavra de sabedoria onde existe dor e semeia bondade onde existe ódio e rancor. O sal não serve somente para dar sabor aos alimentos. É usado também para conservar os alimentos, para impedir que se estraguem. O cristão é sal da terra também nesse sentido.

Com a sua presença impede que a humanidade se corrompa, não permite que a sociedade, conduzida por princípios perversos, apodreça e descambe para a ruína. Não é difícil constatar, por exemplo, que, onde falta alguém que estabeleça a presença do sal do Evangelho, se espalhem facilmente todos os vícios: a imoralidade, o ódio, a violência, a exploração, a vingança. Num mundo no qual cada um procura o próprio interesse, o cristão é chamado para ser o sal que conserva. Ele revive permanentemente e para todos o princípio da doação de si aos irmãos.

A segunda comparação é a da luz. Jesus a explica através de duas figuras: a da cidade construída sobre um monte e que não pode ficar escondida e a lâmpada que deve ser colocada num lugar elevado. É linda essa recomendação de colocar-se bem à vista, de provocar destaque, de mostrar a todos que somos melhores que os demais? Não vos parece que contraria o que Jesus ensina em outros pontos do Evangelho? Por exemplo, se avançamos numa página no "Sermão da Monta­­nha", encontramos o seguinte ensinamento do Mestre: "Não façais as vossas boas obras diante dos homens, para serdes observados. Não toqueis a trombeta para chamar a atenção para vossa esmola". Para que serve a luz? Para iluminar os objetos.

A luz não existe para ser olhada diretamente. Se alguém fixar o olhar no Sol ou numa lâmpada muito forte, o que enxerga? Nada, somente estraga a vista. Não se deve olhar para a luz, mas para as coisas iluminadas. Os cristãos são luz, mas não podem praticar as boas obras para chamar a atenção sobre si, para ser admirados e elogiados. Não é para eles que os homens devem olhar, mas para as boas ações que são praticadas. Os cristãos devem permanecer mais escondidos o quanto possível, deve desaparecer, porque a luz bate diretamente nos olhos, somente prejudica, incomoda, irrita.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

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