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A Bíblia é como uma história de amor, muito bonita e também muito difícil de entender em algumas partes em que Deus revela aos homens. Essa história é composta de duas partes. O Antigo e o Novo Testamento. Essas duas partes se completam reciprocamente e não podem ser entendidas uma sem a outra. A primeira parte do Evangelho de hoje, nos diz que Jesus não veio para destruir o Antigo Testa­­mento: "Não julgueis que eu tenha vindo para destruir a Lei e os profetas" (Mat 5,17). Se Ele fala desta maneira é porque alguém teve a impressão de que, com suas palavras e atitudes, Ele começa a destruir as expectativas e esperanças anunciadas no Antigo Testamento.

É verdade: com o seu comportamento livre e desenvolto, Jesus suscitou muito assombro e muitas perplexidades. Mostrou-se respeitador das leis e instituições do seu povo, mas sempre as interpretou e avaliou partindo do bem do homem. Por amor ao homem não hesitou em violar repetidamente as mais sagradas das prescrições: as relativas ao sábado. Há um segundo motivo que desconcerta os seus ouvintes: Ele proclamou bem-aventurados os pobres, os perseguidos, os oprimidos; anunciou para os seus seguidores dificuldades, sofrimentos e perseguições.

Esta mensagem parece contrariar frontalmente as Escrituras. O povo sempre interpretou as profecias como um anúncio de vitória: um dia Israel dominará sobre os seus inimigos. Nas horas mais difíceis da sua história reencontrou nessas promessas o fundamento para continuar a crer e esperar num futuro melhor. Por que Jesus desilude todas essas expectativas? Eis como Ele esclarece a sua posição e as suas opções: as promessas feitas por Deus no Antigo Testamento todas se cumprirão, nem uma sequer será esquecida. Antes que o mundo acabe, tudo o que está escrito se realizará, mas a forma como tudo se cumprirá será inesperada. Diante das surpresas de Deus, até as pessoas mais piedosas, mais devotas, como o Batista, correrão o risco de ver a fé vacilando e de ficar escandalizadas.

A segunda parte do Evangelho apresenta quatro exemplos desta interpretação desconcertante apresentada por Jesus sobre o Anti­­go Testamento. Trata-se de quatro disposições que Ele não muda, mas explica de forma original, mostrando todas as implicações mais profundas. Eis quatro exemplos:

1-Não matar: é o primeiro caso que é levado em consideração. Trata-se de uma disposição clara que não admite exceções e que condena qualquer tipo de homicídio. O homem não tem poder sobre a vida de outro, mesmo quando este é um criminoso.

2-Não cometer adultério: os judeus pensavam que a Lei proibia somente ações más. Para Jesus, ao contrário, as exigências deste mandamento são muito mais profundas. Há certas amizades, sofrimentos, relações, que já constituem adultérios. "Diante desta exigência claríssima para cultivar a limpeza do coração, como ainda é possível que haja tantos cristãos que se julgam estar em paz com Deus, somente porque conseguiram manter ocultas as suas aventuras"

3-O divórcio: Jesus afirma com toda a clareza que marido e mulher não se separam. O plano de Deus entende que o matrimônio é indissolúvel.

4-O julgamento: entre os discípulos a única regra deve ser a da sinceridade: "Sim, quando é sim; não, quando é não". O juramento revela desconfiança recíproca e não tem sentido entre os cristãos. Mas não é somente este o motivo pela qual está proibido.

Dom Moacyr José Vitti CSS,arcebispo metropolitano.

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