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–Voce está de óculos! disse ela, ainda acordando, entre uma tosse e outra.

– Já faz 25 anos...

– Você está diferente.

– Diferente, você quer dizer velho e fraco? Levantando forte o braço dela.

– Não, sua pegada ainda está boa, ainda que não tão animada quanto da última vez. Você está, sei lá... meio professor. Pera lá, você falou 25 anos?? Onde estive todo esse tempo?

– No começo, na casa dos meus pais. Depois que ele ameaçou jogar você fora, te trouxe para Londrina. E, percebendo que dormira por 25 anos, ela tossiu mais ainda.

Então é por isso que o capim está mais macio que aquele capim gordura de Mogi das Cruzes?

É, aqui é assim, a terra é mais vermelha e o capim bem mais macio...

– E aquela que veio te chamar com o bebezinho no colo? Meu Deus, você tem um filho!! E morreu.

Na próxima arrancada ela veio de novo;

– Agora enfim nós vamos ter uma horta e um pomar orgânico e vamos cortar um mundo de capim para fazer composto?

– Você pegou a ideia. É exatamente isso, só que uma versão melhorada, 25 anos depois.

– Mas por que você me largou por todo esse tempo?

– Uai, para fazer tudo isso que você está vendo, professor, terreno, casa terminanda, filho etc., disse eu orgulhoso.

– E essa gasolina com gosto de caipirinha, você misturou álcool? Continua o mesmo pão-duro de sempre...

– É que agora toda gasolina é assim.

– Para que raios os humanos colocam álcool no combustível das pobres roçadeiras?

– O combustível feito a partir de uma planta não lança carbono novo na atmos...

– Mas isso ainda tá assim? Disse a velha senhora nipônica de 40 anos de idade (cada ano humano equivale a dois para as roçadeiras).

– E ficou ainda muito pior. Aguenta a gasolina com álcool que é por uma boa causa.

– Ops, uma jurubeba no meio do mato, deixa ela aí para os passarinhos. Disse eu, lembrando a amiga dos velhos hábitos.

– Pelo menos alguma coisa não mudou... Mas por que estamos deixando tanto capim nas touceiras? Desse jeito, na semana que vem já está grande de novo.

– É para isso mesmo. Amanhã eu vou empilhar tudo isso para compostar e logo estaremos aqui de novo.

– Escuta, e o Código florestal como anda, aquele deputado moto serra já morreu?

– Olha, você não vai querer saber sobre isso...

E assim começamos a cortar mato de um lado do terreno para fazer composto e acabar com o gramado do outro lado. Como isso vai se desdobrar em muitas outras histórias de compostagem de fraldas, covas, mudas, tratamento de esgoto e coleta de água da chuva, vocês ouvirão falar bastante dela por aqui.

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