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A cena já se repetiu um milhão de vezes comigo. A pessoa falando em tom de voz normal responde à pergunta "Sobre o que mesmo é sua pesquisa?" com palavras complicadas. Seu tom de voz agora beira o sagrado, mas geralmente está falando de coisas simples, às vezes simplórias.

Nós criamos esse comportamento ao dar ao conhecimento este caráter sério desde a escola fundamental. Não podemos nem reclamar.

Recebi agora o jornalzinho da Universidade de Duke onde estive no ano passado, com uma expressão deste agigantamento de coisas simples que a academia tanto gosta. Esta, que é uma das maiores universidades norte-americanas, resolveu depois de centenas de anos pensar em compostar os restos de alimento de dois de seus restaurantes. Repito: pensar em compostar.

Há um time agora medindo quanto resíduo orgânico eles produzem, fazendo cartazes e muito barulho, tiraram até as bandejas de uso para tentar reduzir a quantidade de comida desperdiçada. Compostagem ainda nada, mas eles já falaram até que estão reduzindo o aquecimento global com essa iniciativa revolucionária que ganhou o prêmio do Sustainable Endownments Institute.

A comparação entre o Olimpo das universidades norte-americanas e a realidade brasileira é quase sempre ingrata. Repito: quase.

Em Jacareí (SP), o aluno Lucas de Carvalho, de 11 anos, da escola João Vitor Lamanna, explica para um repórter como funciona a compostagem que sua escola faz há dois anos. Seus olhos não viram e tampouco ele usa palavras rebuscadas. A composteira está do lado dele, cheia de lixo e ao lado da horta que vem recebendo a matéria orgânica pronta. Sua fala é natural como quando falamos de coisas óbvias.

Eu conheço o esforço dessa escola para manter uma estrutura simples de madeira onde o lixo se transforma em húmus. Há dois anos eu os ajudei a começar isso. Tenho também ajudado a escola Hilda Soares em Cambé (PR) a fazer o mesmo. Há coisa de um ano, a aluna Ana Sarah, de 6 anos, deu um show diante do aterrorizador microfone do repórter dizendo que não pode jogar casca de banana no chão, tem de jogar na composteira, depois ela vira uma terrinha para a gente colocar nas plantas.

Durante este ano, conseguimos que a prefeitura de Londrina adotasse a compostagem como técnica pedagógica e o prefeito tem inaugurado pessoalmente quatro delas por semana em agosto. Até o fim do ano não haverá escola municipal sem composteira.

A "significante contribuição teórica para a mudança no paradigma do tratamento dos resíduos sólidos da acadêmica Ana Sarah" como diria alguém lá de Duke, pode ser vista no site do Programa Globo Universidade de 27 de junho de 2009.

O mundo seria muito melhor se houvesse mais dessas pequenas cabeças com grandes ideias.

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