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Não há quem não queira ser feliz. Até os infelizes crônicos, mais conhecidos por depressivos, querem também, ainda que façam da infelicidade a própria medida da felicidade. É o famoso “tá ruim, mas tá bom”. Mas onde encontrar a felicidade, como buscá-la? Já sabe, né? Exato, Santo Agostinho explica isso também em suas Confissões. O livro, além de ser um marco da literatura, é também o primeiro livro de autoajuda da história. Falo sério.

Se na primeira metade da obra ele “desce” do seu orgulho, do seu amor-próprio, na segunda metade parte em busca da felicidade: “Quando te procuro, meu Deus, estou à procura da felicidade. (...) Como, então, devo buscar a felicidade? Porque não a possuirei até que possa dizer ‘basta’”. A primeira pista para a felicidade é a memória da alegria: “Como a alegria é um sentimento do qual todos temos experiência, a encontramos em nossa memória, e a reconhecemos ao ouvir pronunciar a palavra felicidade”.

A verdade da própria miséria é o primeiro encontro com a Verdade que é o próprio Deus

Mas ele sabia que essa alegria não poderia ser aquela advinda dos prazeres carnais, mundanos, que ele sabia serem a falsa felicidade, o caminho para a morte em vida, qual seja: vazio, tédio. Como era um luxurioso, é claro que sua maior alegria era a do prazer sexual. Confessou que, embora tivesse se tornado casto, ainda tinha sonhos eróticos com frequência. Além disso, descobriu que a luxúria é irmã da gula, pois, se conseguia vencer a primeira, começara a cair na segunda com constância.

Agostinho também tinha a memória da sua alegria intelectual, do prazer da curiosidade “que se disfarça sob o nome de conhecimento e de ciência”. Ainda, o rol dos prazeres mundanos é completado pela análise da vanglória, “que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma alegria que não é alegria. (...) A vanglória me tenta até quando a critico em mim, e é por isso mesmo que eu a desaprovo. Muitas vezes, por excesso de vaidade, há quem se glorie até mesmo do desprezo da vanglória; mas de fato não é mais do desprezo da vanglória que se orgulha, porque ninguém a despreza quando se gloria de a desprezar”. Quem nunca?

Mas sua conversão real lhe deu outra imagem de felicidade, da alegria real. “A felicidade é a alegria que provém da verdade. (...) Onde encontrei a verdade, aí encontrei a meu Deus, que é a própria verdade; e desde que aprendi a conhecer a verdade, nunca mais a esqueci.” Ou seja, a verdade da própria miséria é o primeiro encontro com a Verdade que é o próprio Deus, é ali que Ele está, é ali que O encontramos se quisermos conhecê-Lo. Daí por que a verdadeira felicidade é a alegria de um encontro.

Encontro que não ocorre sem um esforço imenso e sincero de se olhar, confessar, como Agostinho nos ensina em seu livro. Eis o próprio sentido da Quaresma que vai chegando ao fim: a busca da Verdade, primeiro sobre si para daí encontrá-Lo como Misericórdia. Daí por que a Igreja recomenda que esse encontro, chamado reconciliação ou confissão – obrigatória ao menos uma vez por ano –, seja feito nesse período, assim como a comunhão obrigatória da eucaristia – também uma vez por ano – seja no período seguinte, o da Páscoa.

Enfim, ou isso ou a eterna busca frustrada da felicidade nas falsas alegrias, meras cosquinhas breves de prazer obtidas numa vida vivida inteiramente na base da fuga da dor e da busca pelo prazer. Dará errado, como sempre deu. Mas sempre é tempo de dizer “basta”.

Desejo a todos uma feliz Páscoa!

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