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O radar meteorológico mostra ao piloto que o voo será desconfortável, mas não indica com exatidão quanto o avião chacoalhará. Há muitas variáveis, não existindo meios para conhecer e computar todas elas. Pelo sistema de som, manda, com palavras padronizadas, que os passageiros apertem os cintos. Retida na mente do piloto, para não causar pânico, está a frase completa: apertem os cintos – e rezem. Metaforicamente, o céu é a economia mundial; o piloto, os governos; passageiros, toda a gente comum que teme a perda do emprego ou a falência do empreendimento.

Os pilotos, na cabine, percebem visual e instrumentalmente que o azul de brigadeiro ficou para trás; têm alcance maior que os passageiros sentados perto das janelinhas, de onde se vê apenas um pedacinho plúmbeo do horizonte e um ou outro relâmpago. Quem está sentado na cadeira do corredor não percebe nada e segue viagem sem notar que as coisas estão mudando, até ser surpreendido pela trepidação que faz ranger o alumínio das asas.

A informação e a interpretação são diferentes conforme a posição do passageiro no avião. Quem recebe os primeiros sinais de tormenta e dispõe de meios para entender a sinalização são as pessoas que estão na proa. Por isso a imensa responsabilidade que pesa sobre elas de falar a verdade sem causar pânico e manter a calma para corrigir o rumo e desviar das nuvens mais perigosas. As atribulações e eventual queda são responsabilidade da tripulação que deve velar pela qualidade do voo.

Em 2008, o Jumbo norte-americano quase foi abatido por um furacão que deixou todo mundo com os nervos em frangalhos. A tempestade, tratada no Brasil como "marolinha", desacelerou a economia a ponto de quase estolar por falta de sustentação. O Jumbo permaneceu voando, mas em condições precárias. Alguma coisa agourenta estava no ar e o A380 europeu, que já voava como besouro, foi colhido por vendaval de inadimplência vindo do Mediterrâneo. O peso da Grécia, Itália, Espanha, Portugal está se tornando insuportável e não há paraquedas. Quem vai chutá-los pelas costas para que despenquem na bancarrota?

Na Ásia, o Japão desligou as turbinas faz tempo e, em razão de planeio suave, vai descendo no rol dos poderosos. No mesmo quadrante voa a China, com motores a plena força, como se não houvesse cumulus nimbus à vista. Quanto tempo ela vai demorar para reduzir a velocidade ou, quem sabe, pousar? Antigamente os americanos espirravam, a Europa tossia, o planeta ficava com pneumonia. Hoje, se o voo da China for interrompido, os outros se estatelam sem tempo para manobras salvadoras.

Nós, nessa metáfora aeronáutica, somos Paulistinha de escola de aviação: voos baixos, curtos e breves. Providências cosméticas fizeram o aviãozinho ser confundido com um gigante dos ares, porém o mau tempo está desfazendo a ilusão e as limitações de velocidade, autonomia, altitude, capacidade de carga estão mais nítidas diante do horizonte cinzento que se avizinha. As possibilidades são muitas, inclusive eventual sorte de boa pilotagem que nos conduza sem muito desconforto na travessia da turbulência econômica mundial. Hora de apertar os cintos e rezar.

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