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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

O discurso dos “bem-pensantes” circula em torno da cantilena de que o neoliberalismo produziu pobreza. Dizem mais, repetindo mimeticamente que a renda dos trabalhadores vem diminuindo. Bem, ouço essa conversa desde que tenho memória e já se vão muitas décadas. Se a queda contínua da renda fosse verdadeira, só haveria lumpesinato e o mundo estaria reduzido a multidão maltrapilha e quantidade minúscula de pessoas com riqueza infruível em meio a iniquidade abjeta.

Parte dessa percepção das coisas foi ver os governos populistas da América do Sul como “maré rosa”, avanço socialista para superar a pobreza trazida pelos abutres do capitalismo. O neoliberalismo, diziam os arautos do paraíso, iria empobrecer os latinos ainda mais do que as ditaduras.

O encerramento do ciclo castrense trouxe governos “liberais” que fizeram leves ajustes estruturais na economia e a casa começou a ficar em ordem, superando as décadas destroçadas pela economia de quartel que vigorou nas plagas do sul, exceto no Chile. Esse período foi turbulento na economia internacional porque a Rússia e os outros países que surgiram com a implosão da União Soviética estavam em situação falimentar e, na Ásia, os satélites da China também entraram e saíram de bancarrotas. Foi período de intensa atuação do Fundo Monetário Internacional.

Quem trouxe pobreza? A responsabilidade ou a irresponsabilidade fiscal?

No Brasil o ciclo de superação da hiperinflação e estagnação econômica foi concluído com a vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, em maio de 2000. Com nuances, os vizinhos da América do Sul viveram igual experiência, exceto a Venezuela, onde o populismo, à moda dos anos 30, chegou ao poder em 1999.

Daí em diante o populismo venceu as eleições em vários lugares prometendo milagres rápidos de enriquecimento para todos. À época o foguete chinês estava com as turbinas em força máxima, acelerando a economia mundial. Os novos líderes do canto esquerdo do terceiro mundo se jactavam de vencer a pobreza e estimular o crescimento da economia por meio de crédito com dinheiro público. Assim, as moedas locais, especialmente o real, se supervalorizaram e Miami passou a ser mais um shopping na lista da classe média que se sentiu poderosa.

Enquanto isso, na casa de máquinas do navio, a estrutura produtiva obsoleta, as instituições cartoriais, o compadrio, o patrimonialismo continuavam enferrujando todas as peças. Os marujos mais prudentes avisavam que a coisa ia ficar feia. Mau agouro, pessismistas, dizia o capitão enquanto entregava o leme à sargento.

Como era absolutamente previsível, os motores pifaram e a nau está à deriva. E agora, José? A festa acabou, a riqueza sumiu, a realidade chegou. Ah, a licença poética de Drummond obtive da estátua na Praia de Copacabana. A previsão para o ano põe o Brasil e a Venezuela na disputa pela lanterna do retrocesso. Quem trouxe pobreza? A responsabilidade ou a irresponsabilidade fiscal?

No Brasil a queda na venda de automóveis foi de 25%; na Espanha, o aumento foi de 25%. O petróleo está mais barato do que água. A nossa débâcle é culpa de quem? De alguma conspiração contra os “governos populares” ou da mais óbvia incompetência gerencial endógena?

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