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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

O retiro pluvioso se alongando; o mofo subindo pelas pernas; a televisão, os jornais, internet, tomados pelas cenas de carnaval. Assaltos repetidos à geladeira; pipoca no micro-ondas. Tudo para tédio de quem olha para o festejo momesco com a incredulidade de um ET. Ser curitibano nesses momentos dá sensação de estar por fora, de ser de outro planeta. O tempo não passa, então melhor pensar em algo mais produtivo que assistir reprise do Hawai 5.0.

Tamborilando pelas teclas como se fossem pandeiro, deparei com análises sobre a degradação das condições econômicas e políticas da Venezuela. Mundo real, pensei olhando para a linha solta do botão da camisa. O Fundo Monetário Internacional prevê bancarrota e perigo do esfacelamento da estrutura social venezuelana. Os índices de recessão, déficit público, inadimplência com fornecedores externos, inclusive cooperativas de lácteos do Uruguai, já são escandalosos. A válvula de alívio da pressão foi a eleição parlamentar do fim do ano passado, quando o governo foi reprovado pelos eleitores.

Para piorar, a Venezuela está em pleno apagão

O problema é que o mandato do Executivo ainda vai longe e o presidente Maduro insiste na tese da conspiração do imperialismo para, via queda do preço do petróleo, derrotar La Revolución. Maduro tange o delírio carnavalesco continuamente, mas o sofrimento dos venezuelanos é real. As filas nos mercados, farmácias, hospitais são surreais, mas não irreais.

Analistas de fatos contemporâneos têm a dificuldade de que o curso dos acontecimentos pode fazer pó de suas ideias no período de uma noite. Todavia, a fragilidade das teses políticas, sociais e econômicas do chavismo prenunciava a falência. Cada episódio, discurso, iniciativa, projeto, lei, era parágrafo da crônica da tragédia anunciada. O abismo foi ficando mais próximo e, mesmo quando visível a olho nu, os “socialistas do século 21” não pisaram no freio. Por mais que a autocrítica magoasse egos, a responsabilidade pública deveria ter falado mais alto.

Para piorar, a Venezuela está em pleno apagão. Os shoppings, por exemplo, ficam sem energia elétrica por seis horas durante o período comercial do dia. A seca combinada com a postura messiânica e a falta de manutenção das hidroelétricas levou o sistema ao colapso. Apagão por apagão, também temos os nossos, e governos com idiossincrasias semelhantes.

Lendo aqui, acolá, entrei na página do Ministério do Ecosocialismo y Água. O conceito de eco-socialismo é fofinho: socialismo ecológico baseado numa relação diferente entre seres humanos e natureza, garantindo o bem-estar das gerações presentes e futuras. A minha atenção ficou presa ao ecosocialismo, algo tão nonsense a ponto de os nossos governantes, amantes dessas extravagâncias, não o adotarem.

Lembrei-me do desastre ambiental soviético, dos rios poluídos na Alemanha Oriental, e o nome soou hilariante como marchinha de carnaval que debocha da seriedade e da hipocrisia dos conceitos que usam expressões politicamente corretas e nada significam de fato. Hipocrisia como tributo que o vício paga à virtude.

O petróleo da Venezuela é verde, ambientalmente correto?

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