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Acostumamo-nos com o estereótipo de Einstein para fazer a imagem dos gênios. Cabelo desalinhado, guarda-pó de professor, adicionados à língua de fora expressando troça, alegria. Assim, para nós mortais, os gênios são pessoas que vivem no mundo da lua, absortos em teorias e sem a menor atenção aos aspectos materiais da vida como dinheiro, aluguel, filhos, aniversários; sem vaidade pessoal, vivendo em salas de aula e laboratórios, como se nada contribuíssem para mitigar aflições de pessoas comuns.

De modo preconceituoso, empresários soem ser vistos como hábeis para ganhar dinheiro, mas não se atribui a eles a condição de gênios. Parece que o toque de Midas e de cientista não podem conviver numa única pessoa. Steve Jobs rompeu esse paradigma. Ele era capaz de empreender e romper a fronteira da ciência trazendo para a vida real inovações que mudaram o modo de viver. Foi, verdadeiramente, revolucionário. Quando o mundo ainda falava em cérebros eletrônicos, Jobs pôs à disposição o computador que podia ser utilizado por gente não iniciada em informática. Para quem acha isso pouco, basta lembrar que no final dos anos 70 era preciso dominar as linhas de DOS para operar essas máquinas. Quando eu emitia comandos numa telinha verde, os cartões perfurados eram lidos e os rolos de fita giravam para lá e para cá, me sentia como protagonista de odisséia no espaço.

Os computadores dele eram caros, é verdade. Não caí na tentação da maçã mordida. Contudo, reconheço, são marcos de usabilidade dos recursos computacionais. Quem anda de carrinho mil é transportado como alguém a bordo de uma Ferrari. Porém o prazer é inigualável. Jobs, de certa forma, foi o Enzo Ferrari da computação e dos aparelhos de convergência entre o computador, telefone, televisor, máquina fotográfica, teléx, livro eletrônico, rádio portátil. Qualquer mácchina charmosa com pinta de joia e apta ao uso corriqueiro inventada por Jobs se tornou sucesso de venda e ainda estão na memória as filas para comprar telefone e tablet. É preciso ser genial para levar pessoas a enfrentar fila para comprar algo caro!

A complexidade da história e personalidade de Jobs produziu meios que permitiram incrementar a liberdade individual. Apesar disso, não creio que a sua foto estilizada estampe camisetas de feira de artesanato. Ele fez muito mais pela liberdade do que Che, ídolo de guerrilheiros de bananas e malucos em geral. A figura esquálida e calva do empresário genial de temperamento turrão tem pouco apelo visual. Dificilmente algum grupo político se organizará com o nome Movimento Revolucionário 5 de outubro (data da morte de Jobs), a exemplo do MR8 que adotou o dia do passamento de Che como símbolo da continuidade do ideário. O MR5 teria como plataforma muito labor em iniciativa privada, assunção dos riscos do empreendimento de capital, liberdade de pensamento e opinião, intensa utilização de máquinas para o trabalho desqualificado. A suma de suas ideias seria a meritocracia como modo de definir as posições das pessoas umas em relação às outras.

Que tal trocar fuzis por iPhones?

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