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Se fôssemos completamente iguais, nada valeríamos. Um a mais ou a menos não faria falta, tal qual um lápis na linha de produção de milhões de unidades. Ocorre, por capricho da natureza ou desígnio do criador, houve algum erro na replicação de informações básicas de construção e operação do sistema e todas as unidades fabricadas são diferentes entre si.

Bem, os seixos de um rio são diferentes entre si. Por que não se faz passeata pela igualdade deles? Falta, às pedras da correnteza, a capacidade de sentir emoções em razão da própria situação e da condição alheia. A agrura humana vai além de sentir dor quando é lanhada a carne do seu corpo, ou quando a sua autoestima é ferida por discriminação, grosseria, indiferença. O fado cósmico está em sentir pelos outros. Essa combinação de sentimentos por si e por outrem forma senso que os filósofos denominam de capacidade moral e os religiosos, de alma.

Senso moral é a nota distintiva do humano em relação ao resto da criação. Por isso as feministas não lutam para a igualdade dos direitos das leoas ante o macho alfa e, na verdade, unem-se aos ambientalistas para que os bandos de leões remanesçam hígidos na sua desigualdade de status entre sexos e indivíduos. Seria moralmente correto inventar um lugar onde os felinos vivam sempre em comunhão e a leoa possa tanto quanto o leão?

A obsessão pela igualdade é tão forte que frequentemente os mitos superam a inteligência e se tornam guia de ação política real

Os nirvanas da igualdade pululam o pensamento filosófico, político, místico. A obsessão pela igualdade é tão forte que frequentemente os mitos superam a inteligência e se tornam guia de ação política real, espalhando muita tristeza e muita dor, como mostra o museu de ossos do regime comunista do Camboja nos anos 80.

Na classificação do filósofo John Rawls, a natureza nos dota com bens primários – vigor/debilidade, inteligência/obtusidade, laboriosidade/desídia, beleza/feiura – em combinações que desigualam as pessoas. Ninguém recebe todos os itens positivos ou negativos. A positividade ou negatividade não é total; há nuances, semitons de pessoa a pessoa que tem características semelhantes. Os feios são desigualmente feios.

As pessoas reais são combinações das características em graus variados. Assim, a gradação de obtusidade pode até livrar alguém muito vigoroso e bonito da burrice (há quem diga que isso é pura inveja!). Pessoa inteligente pode ser desidiosa e desperdiçar a capacidade cerebral. O de saúde débil é muito inteligente, e por aí vão os acasos do caos.

As diferenças naturais não devem ser potencializadas na vida em sociedade, tal qual ocorre entre os animais carentes de senso moral. O leão mais forte é macho alfa do bando e pode decidir, a seu alvedrio, sobre o destino dos outros membros. Entre humanos o senso moral exige que as vantagens e desvantagens naturais sejam limitadas ou compensadas por encargos ou benefícios que visam a equalizar as condições, assegurando convivência com igual liberdade e igual possibilidade de acesso a bens sociais.

Devemos ser iguais se somos diferentes? A moral diz que sim. O ponto nodal é definir em que aspectos devemos ser considerados iguais e a maneira de alcançar a igualdade. O procedimento, os meios utilizados para alcançar as finalidades são fundamentais. A tirania igualitarista é tão odiosa quanto a iníqua.

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