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O tradicional festival de cinema de Pernambuco, o Cine PE, que teria início em 23 de maio, está suspenso até segunda ordem. O motivo: o desfalque na programação desde que sete diretores decidiram retirar seus filmes da mostra competitiva como forma de protesto pela exibição do documentário “O Jardim das Aflições”, sobre o pensamento do filósofo Olavo de Carvalho, e da ficção “Real – O Plano por Trás da História”, que conta a saga de criação do Plano Real. Segundo tais diretores, que não viram ambos os filmes, a curadoria do festival “favorece um discurso alinhado à direita conservadora e grupos que financiaram e compactuaram com o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016”. Ou seja, por falta de retidão ideológica do Cine PE, esses diretores resolveram boicotar o festival. Criticados por uns, endossados por outros, em sua defesa disseram que não eram obrigados a permanecer num evento que desaprovam. Bom seria se aplicassem a mesma lógica de respeito à liberdade de escolha à curadoria do Cine PE. Mas o que salta aos olhos, nesse episódio, é a ignorância completa de que estavam a praticar precisamente a conduta que sempre imputam a seus adversários ideológicos: a intolerância. Pior: julgaram dois filmes que sequer chegaram a ver! Não foi por falta de oportunidade: Josias Teófilo, o diretor de “O Jardim das Aflições”, convidou os sete revoltados a assistirem seu filme para que pudessem comprovar que ele não levou às telas um panfleto da “extrema-direita”, mas um documentário de denso conteúdo filosófico. Não adiantou. Ruth Aquino comenta a postura autoritária desse grupo de cineastas.

O perfil da classe artística

O caso do boicote ao Cine PE é emblemático porque mostra bem o perfil da classe artística brasileira: uma patota esquerdista, autoritária e pretensiosa. Aqueles que se posicionaram ideologicamente, no final das contas, foram os sete diretores que saíram do festival, revelando o espírito corporativista e de manada que condiciona seu comportamento: toda a classe contra os hereges! Há poucos artistas que desafiam a narrativa de esquerda, como Josias Teófilo, que não encontrou espaço no meio, não ganhou verbas do governo, mal conseguiu equipe com a qual trabalhar, foi ignorado pelos grandes circuitos culturais, e quando conseguiu uma admissão condescendente num festival, foi boicotado. Se hoje a situação já está assim, pergunto-me o que aconteceria se vivêssemos numa ditadura bolivariana, possibilidade sempre à espreita: paredão? Esse episódio também revela a pobreza de conteúdo da classe artística brasileira. Quem tem estofo intelectual não precisa silenciar os divergentes. Carlos Andreazza fala sobre “o filme que não deveria existir”.

Ideólogos de plantão julgam o que não compreendem

“Real – O Plano por Trás da História” e “O Jardim das Aflições” foram mal recebidos por quem nem os viu. O primeiro ganhou o rótulo de “tucano”; o segundo, de “extrema-direita”. Ano passado tive a oportunidade de entrevistar o diretor de “Real”, Rodrigo Bittencourt, que não é filiado ao PSDB, muito menos um sujeito de direita. É alguém que tenta olhar para a situação concreta e para a conjuntura do país com algum pragmatismo, e está pouco se lixando para os partidos. Bittencourt simplesmente queria contar a história daquele que considera um grande brasileiro: Gustavo Franco, o gênio idealizador do Plano Real, que, além de tudo, é um personagem interessantíssimo, porque cheio de idiossincrasias. E é isso. Josias Teófilo, por sua vez, declara-se conservador de direita, mas de forma alguma isso faz de seu filme um manifesto político. E nem teria como: o pensamento de Olavo de Carvalho transcende em muito os chavões do discurso ideológico. Só ignora esse fato quem tem preguiça de ler seus livros. Paulo Briguet entrevistou Josias, que falou dos temas abordados em “O Jardim das Aflições”, muito distantes do que os ideólogos de plantão imaginam.

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