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Os facínoras sempre contam com a inverossimilhança de seus crimes. Nos relatos de sobreviventes dos campos de concentração nazistas, como Primo Levi e Viktor Frankl, vemos que os algozes diziam frequentemente aos prisioneiros: "Por mais que alguém conte o que aconteceu aqui, ninguém vai acreditar". A estratégia só não deu certo com o nazismo porque a comunidade judaica atuou fortemente na divulgação dos crimes cometidos pelo regime de Hitler. No caso das atrocidades comunistas, como o Holodomor na Ucrânia e o Grande Salto para a Frente de Mao Tsé-tung, a inverossimilhança falou mais alto que a verdade – e até hoje os propagandistas militantes insistem em dizer que tudo não passa de "invenção da direita".

Pensei nisso ao ler a recente decisão do juiz Sérgio Moro sobre o escândalo da

Petrobras. A amplitude dos crimes cometidos contra a maior estatal brasileira chega a parecer irreal, de tão nefasta. Estamos em um romance de Kafka, como O Castelo ou O Processo. A diferença é que o Joseph K. da história somos nós, os brasileiros comuns que acordam cedo para trabalhar. Seleciono a frase de um ex-diretor da Petrobras: "Olha, em relação à Diretoria de Serviços, todos sabiam que um porcentual desses contratos da área de Abastecimento, dos 3%, 2% eram para atender ao PT. Através da Diretoria de Serviços. Outras diretorias como Gás e Energia, e como Exploração e Produção, também eram PT, então você tinha PT na Diretoria de Exploração e Produção, PT na Diretoria de Gás e Energia e PT na área de serviço. Então, o comentário que pautava lá dentro da companhia é que, nesse caso, os 3% ficavam diretamente para, diretamente para o PT".

Não chega a ser um trecho musical, em que a legenda do partido governante soa como um tambor dos infernos? Identifiquei essa mesma beleza horrível nos contratos forjados aqui na prefeitura de Londrina, durante o escândalo AMA-Comurb, nos anos 1999-2000. O diabo às vezes é um esteta.

Agora sabemos que Paulo Francis estava certo quando dizia que a Petrobras era um antro de corrupção e roubalheira. Francis foi odiado por dizer isso, e por defender a privatização da empresa. Morreu perseguido pelos diretores da estatal. Mas acho que até mesmo ele ficaria assustado com as dimensões que o assalto assumiu no governo do PT. É claro que os petistas não inventaram a corrupção; mas sem dúvida eles a levaram a um estado de arte.

Perdão, Francis. Você tinha razão o tempo todo. Só os profetas enxergam o óbvio.

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