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Gostaria de dizer aos senhores que meu filho continuará brincando de mocinho e bandido, sendo os mocinhos agentes policiais, defensores da lei e da ordem, devidamente aparelhados com armas, algemas e camburões. Em nossas brincadeiras, bandidos seguirão sendo bandidos, e não vítimas da sociedade ou heróis revoltados com a burguesia. Ao fim dos trabalhos, antes da nossa hora de escovar os dentes e dormir, todos os malvados serão conduzidos à prisão, onde vão pagar pelos crimes cometidos.

Gostaria de dizer aos senhores que em minha casa continuarei ouvindo Bach e Beethoven. Direi a meu filho que existe música boa e música ruim, sendo que Mozart e Schubert enquadram-se no primeiro caso, e rap e funk carioca enquadram-se no segundo. Quando ele aprender a ler, direi que Cecília Meireles e Fernando Pessoa escrevem bem, ao passo que pichadores de muro e poetas de passeata escrevem mal. Direi que o grafite psicodélico da esquina – como ele próprio observou, aos 3 anos de idade – é feio, enquanto uma tela de Caravaggio ou uma escultura de Aleijadinho são bonitas (descobri que meu filho tem um senso estético mais apurado que a maioria dos intelectuais de esquerda).

Gostaria de dizer aos senhores que continuarei fazendo o sinal da cruz ao passar pela frente de uma igreja e rezando silenciosamente antes das refeições ou durante meus passeios matinais com o vira-lata Cisco. Da mesma maneira, continuarei indo às missas do meio-dia na Catedral de Londrina e lendo pelo menos um capítulo dos Evangelhos antes de dormir.

Gostaria de dizer aos senhores que meu filho ouvirá de mim todos os dias que falar a verdade é certo e mentir é errado. Aprenderá que não se deve subtrair o que é dos outros; que um menino educado divide os seus brinquedos com os amiguinhos, mas nunca se apropria do brinquedo alheio sem a devida permissão; que existe uma coisa chamada propriedade privada e que ela merece respeito.

Gostaria de dizer aos senhores que meu filho ouvirá falar todos os dias de três coisas chamadas verdade, bondade e beleza – e saberá que elas estão profundamente interligadas. Entenderá que invadir o shopping gritando e cantando bobagens é uma atitude inadequada, estúpida, ridícula; que não se deve perturbar a paz alheia; e que a companhia da família – em geral formada por pai, mãe e filhos – é sempre melhor do que qualquer bem material ou objeto de consumo.

Gostaria de dizer aos senhores que direi todos os dias ao meu filho que Deus existe, que Jesus Cristo é Seu Filho e que o amor é o caminho para a salvação eterna. E mais não digo porque não preciso.

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