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Meu nome é Brasil. Sou paciente em estado terminal do Hospital do Câncer. Daqui do quarto acompanho as notícias a meu respeito, que foram um pouco exageradas quando se referiram à minha morte – mas não estão, assim, muito longe da verdade.

Dias atrás prenderam o sr. Bumlai, aquele que tinha livre acesso ao Palácio. Em seguida, foi a vez do sr. Delcídio, líder do governo no Senado. No outro lado do Congresso, o sr. Cunha tenta salvar-se numa luta que me faz lembrar a última cena do filme Cães de Aluguel. Nenhum deles me visitou nos últimos meses; só tinham olhos para mim durante o tempo das vacas gordas. Enquanto discutem como salvar a si próprios, eu permaneço aqui morrendo à míngua. Nem sequer recebo um telefonema.

Alguns dizem que o remédio para meus problemas se chama impeachment. É claro que a saída daquela senhora ajudaria um pouco, mas as causas da doença seguiriam incólumes. O agente causador dos meus males tem outro nome: Partido dos Trabalhadores, também conhecido como Foro de São Paulo. Dizer que o problema se resume a uma Dilma ou a um Cunha equivale a tratar câncer com aspirina.

Sofro de lama e solidão, zika e dengue, petrolão e BNDES

Engana-se quem acha que o PT pretende me transformar em uma segunda Cuba. O PT quer transformar o Brasil numa nova China, onde o partido único está no poder há 65 anos e coexistem os piores vícios do capitalismo e do comunismo. Se os petistas continuarem sugando minhas forças por mais alguns meses, não importará quem estiver na Presidência, porque não haverá país para presidir.

Meu nome é Brasil, sofro de lama e solidão, zika e dengue, petrolão e BNDES. Outro dia, para passar o tempo, estava lendo os escritos de um filósofo brasileiro que mora na Virgínia. Eis o que ele diz: “Nunca um presidente eleito de qualquer país civilizado mostrou um desprezo tão completo à Constituição, às leis, às instituições e ao eleitorado inteiro, ao mesmo tempo em que concedia toda a confiança, toda a autoridade, a uma assembleia clandestina repleta de criminosos, para que decidisse, longe dos olhos do povo, os destinos da nação”.

Pensam vocês que o filósofo escreveu isso na semana passada? Enganam-se. O artigo é de setembro de 2005. Há mais de dez anos ele antevia o que está acontecendo comigo agora. E aqui estou, morrendo, cercado de solidão e silêncio.

Felizmente o silêncio não é absoluto, tampouco a solidão. Sei que 90% dos brasileiros estão ao meu lado e querem o fim da doença que se instalou em mim. Estão calados, estão cansados, foram às ruas – 15 de março é o dia do meu novo aniversário –, mas no momento não sabem o que fazer. Meu nome é Brasil e o nome da minha doença é Brasília.

Numa dessas noites, observei com alegria e esperança, pela janela do quarto, o espetáculo dos fogos de artifício. É bom saber que ainda há quem acredite em Deus. Lembrei-me das noites em que houve o panelaço, uma ruptura do silêncio que também me deixou feliz. De qualquer forma, o silêncio voltou. Meu nome é Brasil e eu preciso de você que está lendo estas palavras agora.

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