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A desesperança com relação ao futuro próximo do Brasil mais uma vez se evidenciou com a divulgação, na semana passada, do Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), elaborado mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice relativo a janeiro de 2015, de 44,4%, é o mais baixo da série histórica iniciada em 1999 – 0,8 ponto percentual mais baixo que o aferido em dezembro de 2014.

Explique-se desde logo o significado desses números: menos da metade dos empresários industriais pesquisados confia que seus negócios têm potencial para prosperar no corrente ano, a maioria encara com pessimismo o porvir de um ambiente econômico que favoreça o crescimento de suas atividades. Para se ter ainda maior clareza em relação aos resultados da pesquisa, lembremos dois dados importantes: o índice histórico médio de confiança aferido pelo Icei é de 56,9% – e qualquer taxa inferior a 50 é a representação do pessimismo.

Não é difícil achar respostas para o baixo índice de confiança demonstrado pelos industriais. A primeira delas diz respeito à errática política econômica empreendida já desde o início de seu governo, em 2011, pela presidente Dilma Rousseff. Desde então, o país vem assistindo a uma sucessão de improvisos cujos efeitos, fugazes, têm como resultado desorganização e insegurança. Os exemplos são muitos, e citemos apenas dois dos mais emblemáticos: as desonerações pontuais e a voluntariosa e desastrada decisão de baixar as tarifas de energia elétrica.

Enquanto o governo se apoiava na propaganda para infundir na sociedade a falsa impressão de que vivíamos um tempo de prosperidade, os números teimavam em mostrar o contrário: desequilíbrio gigantesco das contas públicas, inflação em alta, pedaladas contábeis, crescimento próximo do zero. As evidências do caos, denunciadas pela oposição e pelos mais respeitados analistas, não impediram a reeleição de Dilma Rousseff.

Somente após a posse para o novo mandato é que a presidente deu sinais de que o que dizia durante a campanha não resistiria à dura realidade, que agora precisa ser enfrentada com os mesmos remédios amargos que antes combatera: cortes orçamentários, elevação da carga tributária, alta dos juros, supressão de direitos dos trabalhadores e tantas outras "maldades" contidas no pacote anunciado por seu novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy – aliás, é preciso lembrar que a pesquisa da CNI foi feita antes da divulgação do mais recente aumento de impostos.

Isto é, se ao longo dos últimos anos o empresariado já encontrava razões para reduzir investimentos em seus negócios, o novo ambiente econômico implantado de supetão trata de empurrar para baixo o que restava de confiança em dias melhores no curto prazo. O ministro reconhece que o país se manterá em ritmo recessivo e que as medidas anunciadas, que obrigatoriamente reduzirão o consumo, logicamente reduzirão também a produção. E, portanto, temos à frente um cenário de crescimento das taxas de desemprego.

Num ambiente destes, quem há de investir? Este é o recado que nos passam os índices negativos de confiança aferidos pela pesquisa da CNI. Eles se constituem em apenas mais um componente do conjunto de fatores psicológicos que se soma a fatos tão concretos como a incapacidade do país de oferecer melhor infraestrutura, o risco iminente de apagão energético, o agravamento da crise hídrica, a contenção das exportações, a baixa das cotações no mercado de commodities estratégicas e tantas outras mazelas. É tudo de quanto precisamos para explicar por que o Brasil se tornou tão pouco atrativo para os capitais não especulativos e para a livre iniciativa.

Disto se conclui que, de participante e indutor do crescimento econômico e social, o governo mais tem atrapalhado, tanto quando erra sistematicamente como quando só nos oferece o cálice amargo dos remédios de emergência sem, em contrapartida, ser convincente para alimentar a crença de que dias melhores virão.

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