Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Editorial

A crise do HC

Doente crônico da falta de recursos, o Hospital de Clínicas (HC) ocupa novamente o noticiário para mais uma vez escancarar crise que o acomete. Afundado em dívidas, o hospital-escola da Universidade Federal do Paraná (UFPR) suspendeu cirurgias e paralisou o funcionamento de alguns de seus setores essenciais porque os estoques de medicamentos estão esgotados ou porque laboratórios de análises e de radiologia já não dispõem de insumos básicos. Milhares de pacientes, em sua maioria pobres e incapazes de custear tratamentos especializados com recursos próprios, pagam com muito sofrimento o preço da insuficiência de recursos para a manutenção da instituição. Não apenas faltam recursos – falta sobretudo vontade política dos organismos dos quais depende para que o HC não continue vivendo sob contínua ameaça de colapso.

A cada espasmo do gênero, soluções de emergência do tipo tapa-buraco – como a liberação, ontem, de R$ 700 mil pelo Ministério da Educação – são adotadas para dar ao HC o mínimo necessário apenas para evitar a paralisação completa. Nunca, porém, chegam a se corporificar as propostas de resolução definitiva. Ao contrário do que recomenda a boa medicina, prefere-se aplicar ao doente remédios que combatem apenas os sintomas mas não as causas de seu sofrimento; cura-se apenas a febre, mascarando um quadro grave que exigiria, na verdade, a extirpação do tumor.

A grande questão é a seguinte: as receitas do Hospital de Clínicas provêm basicamente do atendimento que presta aos pacientes do SUS, cujas tabelas de ressarcimento são escandalosamente irrisórias. Quase toda a arrecadação proveniente destina-se a cobrir a folha de pessoal, pouco sobrando para a aquisição de medicamentos, insumos e manutenção geral. Logo, o pagamento dos salários deveria ser provido através de outra fonte. E esta fonte é o Ministério da Educação, já que o Hospital, pertencendo à UFPR, deve fazer parte da estrutura orçamentária do MEC.

Um dos cinco maiores hospitais-escola do país, o HC mostra sua importância com grandes números: atende a um universo populacional de 3,5 milhões de pessoas, realizando em média 2.700 atendimentos e 72 internações por dia. Somente no último ano, o número de pacientes atendidos chegou a quase 800 mil, os quais usufruíram da excelência dos serviços em nada menos de 45 especialidades – algumas delas de alta complexidade e extremamente caras, como o do mundialmente elogiado serviço de transplante de medula óssea.

É preciso, portanto, fazer com que o governo federal inclua a manutenção do HC entre suas obrigações. Para isso, a comunidade paranaense, diretamente interessada no bom funcionamento da instituição, deve mover-se politicamente – tarefa para o governo do estado, prefeituras municipais incluídas no raio de atuação do HC e, sobretudo, da bancada federal paranaense no Congresso.

Esta é a única forma de dar solução permanente – e justa – para o Hospital de Clínicas. Caso contrário, continuaremos a ver a cansativa repetição dos seus espasmos crônicos.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.