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Governo autoriza reajuste de medicamentos.
Reajuste de medicamentos autorizado pelo governo em abril ajudou a puxar a inflação para cima.| Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil

Após um forte movimento de aceleração iniciado em setembro do ano passado, e que só teve um breve intervalo em janeiro de 2021, a inflação oficial, medida pelo IPCA, voltou a desacelerar em abril, registrando aumento de 0,31%, contra 0,93% em março. Mesmo assim, continua a haver muitos motivos para preocupação, evidenciada pelos recentes aumentos na taxa Selic – e o Copom já avisou que, na próxima reunião, em meados de junho, há grande possibilidade de uma nova elevação, ainda na tentativa de conter as pressões inflacionárias.

Apesar da freada no índice mensal, o acumulado dos últimos 12 meses segue subindo, até porque o 0,31% de abril substitui uma deflação verificada no mesmo mês do ano passado. Em fevereiro, esta inflação acumulada chegou a 5,20%, raspando o limite máximo da banda de tolerância da meta de inflação, que é de 3,75% com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Em março, o limite foi rompido com o acumulado de 12 meses subindo para 6,10%; com o IPCA de abril, chegou a 6,76%, e a tendência ainda é de elevação ao menos em maio, já que também houve deflação em maio de 2020. Mesmo assim, as previsões do mercado financeiro, compiladas no Relatório Focus, ainda colocam o IPCA em 5,06% ao fim de 2021.

Oito dos nove grandes grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta

Há elementos preocupantes no IPCA de abril, apesar de o número consolidado ser menor que o dos meses anteriores. Ainda que o índice tenha sido especialmente influenciado pelo reajuste dos medicamentos, autorizado pelo governo em abril, o aumento de preços é generalizado. Oito dos nove grandes grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta, embora três deles – despesas pessoais, educação e comunicação – estejam mais próximos da estabilidade que de alta, com variações entre 0,01% e 0,08%. O único grupo a registrar redução de preços foi o de transportes, com -0,08%, ou seja, também mais perto da estabilidade que de uma retração mais sólida. A maior influência dentro deste grupo foi a dos combustíveis, com -0,94%; este item havia sido o principal responsável pelo IPCA mais alto de fevereiro e março. Mesmo assim, no acumulado de 12 meses tanto gasolina quanto etanol têm aumentos na casa dos 30%.

Os bons preços de commodities no mercado internacional, ressaltados pelo Copom como fonte de pressão inflacionária por favorecerem a exportação, com efeitos na oferta doméstica, também continuam se refletindo nos preços dos alimentos, que subiram 0,40%. No acumulado de 12 meses, as carnes, por exemplo, ficaram 35% mais caras, em parte graças à dependência do milho e da soja, componentes da ração animal, segundo Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IPCA no IBGE.

O Copom continua avaliando o atual choque inflacionário como temporário, mas com o passar dos meses o dragão segue demonstrando força e pouca disposição a arrefecer, com risco de o “temporário” se encaminhar para “permanente”. A energia elétrica tende a ficar mais cara a partir de maio, com o acionamento da bandeira vermelha. E, se a vacinação contra a Covid-19 ganhar impulso, a bem-vinda normalização da atividade econômica pode também ter efeito sobre os preços, dependendo do aumento da demanda, e apesar de ainda haver considerável capacidade ociosa, na avaliação dos membros do comitê. Além disso, se a procura internacional por commodities continuar elevada ao longo do ano, talvez o Banco Central, sozinho, não seja capaz de debelar a inflação apenas por meio da política monetária.

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