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As previsões meteorológicas, é verdade, não são sempre tão precisas quanto gostaríamos. Não chove o suficiente quando é necessário, ou às vezes chove demais quando já não se esperava. São as trapaças do clima, incontrolável pelas mãos humanas. Neste mês de junho, os aguaceiros chegaram fora do tempo e de forma muito mais intensa do que as tais médias históricas. Quando isso acontece, porém, o resultado é sempre previsível: áreas inundadas, famílias desabrigadas, energia elétrica cortada, abastecimento de água suspenso, perdas nas lavouras, estradas interditadas...

Vários estados foram afetados, mas só o Paraná contabilizava, até ontem, 132 municípios em estado de emergência, dez mortes e quase meio milhão de pessoas clamando por ajuda. Os prejuízos deste ano e mês guardam pelo menos uma coincidência em relação às tragédias de mesmo porte registradas em anos ou décadas passadas: os lugares são praticamente os mesmos. Ou seja, de há muito se sabe que uma chuva mais forte vai provocar nos mesmos locais os mesmos problemas que a história já repetidamente escreveu.

Diante desse tipo de situação, autoridades alegam que o volume de chuva ficou "acima do esperado". Ora, se há algo que é, sim, esperado, é o fato de que em algum momento choverá "acima do esperado". Assim, se o tempo não é tão previsível, metódico ou matemático quanto se gostaria, é evidente que de método e previsão carecem os gestores públicos. Falta-lhes o senso de previsão para fazer o básico: prevenção. Prevenção que geralmente consiste em ações básicas, como limpeza e dragagem de rios, controle de vazão dos reservatórios, obras de contenção de encostas, reforço de pontes, vigilância para que não sejam ocupadas irregularmente áreas naturalmente sujeitas a alagamentos, e tantas outras obras que poderiam mitigar os efeitos do excesso de chuvas.

São providências sempre prometidas quando das tragédias, mas nunca realizadas nos tempos de bonança – a Gazeta do Povo de ontem mostrou que apenas uma parte da verba prevista para a prevenção de desastres foi efetivamente usada. Também não são aparelhados convenientemente (de verbas, equipamentos e outros materiais) os organismos de defesa civil. E neste caso, principalmente, apela-se à ajuda popular, claro que sempre bem-vinda e necessária do ponto de vista da solidariedade humana. Felizmente, esta se manifesta até de modo espontâneo e abundante, fornecendo em elogiável quantidade alimentos, agasalhos e abrigo aos desamparados.

Não falta a solidariedade do povo, mas ainda falta uma completa educação ambiental. Os gestores públicos devem, sim, ser responsabilizados pelas tragédias anunciadas que suas decisões poderiam prevenir, mas não se pode esquecer daqueles que não cuidam de dar destino correto aos dejetos, que acabam por obstruir perigosamente o curso dos rios e galerias pluviais, assim como não se vê com a frequência e a intensidade desejáveis iniciativas individuais ou comunitárias para proteger matas ciliares, conservar o solo ou evitar a construção de habitações em locais impróprios.

A tragédia se abate este ano em período pré-eleitoral, época certamente pródiga em atitudes destinadas a tirar proveito político e também propícia à renovação de promessas não cumpridas no passado e que só serão outra vez lembradas na futura enchente.

Que a chuvarada deste junho, que tanta desgraça está causando – principalmente aos mais desvalidos –, sirva de lição para todos nós, povo e gestores públicos. Não aprendemos com as anteriores e os maus efeitos se repetem nesta temporada. Deixemos de lado a meteorologia e nos dediquemos à prevenção. É sempre o melhor remédio.

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