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| Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Uma operação do Gaeco, órgão ligado ao Ministério Público Estadual, levou à prisão, nesta terça-feira, do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa e de várias pessoas a ele ligadas. A lista de alvos inclui sua esposa, Fernanda Richa; o ex-chefe de gabinete Deonilson Roldo; ex-secretários como Pepe Richa, da pasta de Infraestrutura e irmão do ex-governador, Edson Casagrande, de Assuntos Estratégicos, e Ezequias Moreira, de Cerimonial; e Luiz Abi Antoun, primo de Richa. Ao mesmo tempo, embora sem nenhum tipo de combinação ou coordenação com o MPPR, a Operação Piloto, nova fase da Lava Jato, também teve mandado de prisão contra Deonilson; já Ezequias, Abi e Pepe também tiveram a prisão pedida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, mas o juiz Sergio Moro havia negado os pedidos.

As duas investigações começaram com as informações fornecidas às autoridades pelo ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR) Nelson Leal Junior, preso em fevereiro e que fez acordo de delação premiada. A ação estadual se refere ao programa Patrulha do Campo, que o governo estadual manteve entre 2012 e 2014 e que consistia na ajuda a municípios para a manutenção e recuperação de estradas rurais, com o fornecimento de maquinário. A suspeita é a de direcionamento nas licitações para a contratação das empresas que forneciam os tratores e demais máquinas – além de fraude na licitação, também haveria lavagem de dinheiro e pagamento de propina. Já a operação federal investiga o suposto direcionamento em uma outra licitação do governo estadual, a da parceria público-Privada (PPP) da PR-323, na região Noroeste do estado, para favorecer a Odebrecht. A mesma PPP já havia levado Deonilson Roldo ao banco dos réus na semana passada, por decisão de Moro.

Se efetivamente houver embasamento suficiente para as prisões, elas terão dado ao Paraná um triste recorde

A defesa do ex-governador chamou de “oportunismo” a prisão realizada em período eleitoral. A isso, o coordenador do Gaeco, Leonir Battisti, respondeu lembrando que o trabalho dos órgãos de investigação não pode se pautar pelo calendário eleitoral; do contrário, seria melhor dar férias aos investigadores e agentes de uma vez por todas. Mas ações como estas, em meio à campanha, têm, sim, impacto eleitoral, algo que o próprio Battisti reconhece. E justamente por isso um pedido de prisão temporária, como foi feito no caso de Richa, exige um cuidado especial. A legislação prevê uma lista bastante restrita de circunstâncias que justificam esse tipo de medida, e é preciso que uma cautelar com essas dimensões seja adotada de forma muito criteriosa para evitar o arbítrio.

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E, se efetivamente houver embasamento suficiente para as prisões, elas terão dado ao Paraná um triste recorde: praticamente todo o “núcleo duro” de um governo estadual – incluindo o próprio ex-chefe do Executivo e vários de seus ex-secretários de Estado – cai ao mesmo tempo, algo que não se viu nem mesmo no Rio de Janeiro de Sérgio Cabral. Vários dos personagens das operações desta terça já são conhecidos de outros escândalos e investigações: Luiz Abi já foi condenado na Operação Voldemort e Ezequias Moreira, pelo caso da “sogra fantasma”. Que eles e tantos outros tenham sido mantidos próximos ao então governador mesmo no auge das denúncias contra eles foi, sem dúvida, um péssimo sinal enviado por Richa, assim como o presidente Michel Temer tem feito com assessores e ministros.

Rádio Patrulha e Piloto, os nomes das duas operações da terça-feira, se juntam a Voldemort, Quadro Negro, Integração e Publicano, nomes que já estiveram na boca da população. Algumas dessas investigações apenas respingaram no Palácio Iguaçu, outras estiveram bem próximas dos principais gabinetes. Em uma sociedade que perdeu a fé na política, investigações já são quase que um atestado de culpa, o que pode levar a injustiças. O único jeito de colocar tudo às claras é seguir em frente, com um trabalho criterioso das polícias e do Ministério Público, estadual e federal. Se de fato o governo estadual esteve contaminado, imerso em corrupção por vários anos, o paranaense precisa saber.

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