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Para sustentar crescimento constante na casa dos 5% ao ano, taxa de investimento precisa permanecer em volta de 25% do PIB.
Para sustentar crescimento constante na casa dos 5% ao ano, taxa de investimento precisa permanecer em volta de 25% do PIB.| Foto: marcin049/Pixabay

Os bens e serviços necessários ao atendimento das necessidades manifestadas pela população, desde aquelas consideradas vitais, sem as quais a vida humana perece – a exemplo de alimentos, roupas, moradia, saúde, transporte e outros –, são produzidos com os recursos naturais, o trabalho e o capital físico, mobilizados e operados por um sistema empresarial composto de milhões de empresas e estabelecimentos de serviços pessoais. O capital físico é a soma da infraestrutura física, a infraestrutura empresarial e a infraestrutura social. Assim, a produção feita por um país durante um ano deve ser composta dos bens e serviços de uso e consumo, conforme as necessidades referidas, mais os bens de capital destinados a manter e ampliar aquelas três infraestruturas nacionais.

Em resumo, o chamado Produto Interno Bruto (PIB) é um bolo composto de duas fatias: uma, os bens e serviços de uso e consumo; outra, os bens de capital incorporados ao estoque de capital físico que dá base de sustentação ao sistema produtivo e às ações humanas. As políticas públicas destinadas a induzir determinada divisão do PIB entre a porcentagem de bens e serviços de consumo e a porcentagem de bens de capital devem considerar que o tamanho do próprio PIB depende do tamanho do capital físico existente no país, o que leva à conclusão que, quanto maior a fatia de bens de capital no PIB – os quais serão adicionados ao capital físico anteriormente existente –, maior será o PIB possível. Uma questão crucial envolve o problema da escolha, pois, sendo o total do PIB limitado, quanto maior o total de bens e serviços de consumo, menor o total de bens de capital (portanto, menor a taxa de investimento nacional). Se a sociedade optar por mais investimento, o total de bens e serviços de consumo será obviamente menor.

Em função da insuficiência de investimento que vem de muitos anos, o Brasil está diante da necessidade de investir para acompanhar o crescimento anual

É assim que, ao fim de cada ano, uma das mais importantes informações se refere a como o PIB obtido no ano foi dividido. Segundo cálculos internacionais, para o PIB de um país crescer à taxa de 5% ao ano, a taxa de investimento deve girar em volta de 25% do PIB anual. Se os bens de capital produzidos em um ano ficarem constantemente abaixo de 25% em relação ao PIB, o país não conseguirá sustentar crescimento de 5% ao longo dos anos porque o tamanho do capital físico ficará abaixo do necessário para crescimento nesse nível – e o que os economistas chamam de “teoria das restrições”. O Brasil vem há anos com taxa de investimento relativamente baixa (em alguns dos últimos anos, essa taxa girou em torno de 15%). Neste ano de 2021, a estimativa é que, para um PIB de R$ 8,08 trilhões, a taxa de investimento seja 18,5% desse mesmo PIB, significando melhora da expansão do estoque de capital físico nacional.

Vale lembrar que o aumento do capital físico é menor que o total dos investimentos anuais, já que parte de tais investimentos destina-se a repor o capital desgastado durante o processo produtivo, equivalente à depreciação, isto é, a diminuição do capital físico em função de seu uso. Outro ponto que deve ser observado, porque pode induzir a uma ilusão estatística, é não julgar o desempenho do investimento nacional apenas em função de sua porcentagem sobre o PIB, por uma razão principal: num dado período, a produção de bens de capital pode não aumentar e, ao mesmo tempo, significar uma porcentagem maior do PIB apenas porque o PIB total caiu. Quando isso ocorre, a queda do PIB se dá por causa da queda na produção de bens e serviços de consumo; logo, mantendo-se a produção de bens de capital, estes passam a representar porcentual maior sobre o novo PIB.

Esse problema apareceu em declarações de autoridades públicas, como se vê pelo seguinte trecho da nota da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, referindo-se à queda de 0,1% do PIB no terceiro trimestre deste ano: “A taxa de poupança chegou a 18,6% do PIB no terceiro trimestre, retornando ao nível do mesmo trimestre de 2014. Por sua vez, a taxa de investimento atingiu 19,4%, retomando o patamar do começo da década passada”. A informação numérica da SPE está correta, pois se trata de dado estatístico comprovado. Porém, o aspecto positivo da nota disfarça o fato de que parte da boa taxa do investimento resulta da diminuição da base sobre a qual o cálculo é feito, que é um PIB menor em função de pequena redução no PIB considerado.

Em função da insuficiência de investimento que vem de muitos anos, o Brasil está diante da necessidade de investir para acompanhar o crescimento anual, mas também para reduzir o déficit de infraestrutura, que é notoriamente bastante grande. A situação torna-se mais grave quando se considera que a população cresceu pelo menos 16 milhões de habitantes em apenas dez anos, dado esse que, junto com a meta de reduzir a pobreza, mostra a necessidade urgente de expansão no volume de investimento. Esse tema é mais um importante desafio que se impõe sobre o governo e a sociedade, e deve ser objeto de discussão na campanha eleitoral do ano que vem. A tônica de todos os países que enriqueceram foi expressivo aumento da taxa de investimento.

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