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| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Curitibanos e moradores da região metropolitana foram surpreendidos com o anúncio de que a integração entre as duas redes de transporte coletivo, interrompida em 2015, será retomada assim que Rafael Greca, que se elegeu prefeito da capital com apoio do governador Beto Richa, assumir o cargo, em janeiro de 2017. Para quem precisou se acostumar com tarifas e cartões diferentes, sem falar do encerramento ou substituição de algumas linhas importantes, a novidade será benéfica. Mas o anúncio, feito por Richa no dia seguinte à vitória de seu candidato à prefeitura, não cai bem por vários motivos.

Os atritos entre governo do estado e prefeitura de Curitiba envolvendo a gestão do transporte coletivo tiveram dois episódios decisivos: no início de 2013 – ou seja, pouco depois de Gustavo Fruet se eleger prefeito em 2012 derrotando, entre outros, o candidato de Richa, Luciano Ducci –, o governo estadual ameaçou cortar o subsídio para o sistema de ônibus da capital. O aporte anual, iniciado no ano anterior (quando Ducci era o prefeito), era de pouco mais de R$ 60 milhões. “Auxiliamos por um determinado momento, mas o governo não pode ser sobrecarregado com mais essa despesa”, disse o governador em março de 2013. O subsídio, em seu modelo original, durou até o fim de 2014.

A novidade é benéfica ao usuário, mas o anúncio de Richa não cai bem

Mesmo durante o impasse a respeito do subsídio, a integração foi mantida até o início de 2015. Em janeiro do ano passado, o governo estadual propôs um subsídio de R$ 2,3 milhões mensais para bancar a manutenção das tarifas das linhas intermunicipais (mais longas e deficitárias) nos mesmos valores das linhas de Curitiba – sistema que, segundo a Urbs, se pagava sozinho. A quantia oferecida era bem menor que os R$ 7,5 milhões mensais repassados até o fim de 2014. Diante da redução drástica, a Urbs e a prefeitura de Curitiba rejeitaram a proposta, levando à desintegração do sistema, com suas consequências para milhares de usuários.

Há dois problemas principais com o anúncio de Beto Richa. O primeiro é menor e mais prático: ainda que, como alegou o governador, o sucesso do ajuste fiscal permita pagar o subsídio – que pode não ter impacto tão grande no orçamento do estado –, há outras e muito maiores pressões sobre os cofres públicos, principalmente enquanto não se resolver o impasse sobre os R$ 2,4 bilhões do reajuste dos servidores, uma batalha cujo primeiro round o Palácio Iguaçu já perdeu.

O segundo problema é muito mais sério, pois reside no uso político dos subsídios e da integração. Com o anúncio partindo do governador no dia seguinte à eleição de Greca para a prefeitura, sem falar no histórico desses repasses – criados quando o prefeito era do grupo de Richa, suspensos quando um adversário assumiu a prefeitura, e agora retomados com a vitória de um outro aliado –, fica difícil defender que a ajuda do governo estadual ao sistema de ônibus não tenha esse componente. É legítimo questionar: se Fruet tivesse conquistado a reeleição, teríamos esse anúncio tão repentino? Aliás, se os recursos existem, por que esperar até a posse de Greca? Por que não começar já o trabalho para, se possível, retomar a integração ainda antes do fim do ano?

É absolutamente indecoroso que uma briga política tenha prejudicado dessa maneira inúmeros usuários do transporte coletivo. O governador pretendeu (e conseguiu) impor uma derrota a Fruet, fazendo dele o prefeito em cujo mandato cessaram o subsídio e a integração. Mas carreiras de políticos têm altos e baixos – basta observar os próprios Greca e Richa –, e o atual prefeito poderá se recuperar no futuro. O que não tem volta, no entanto, é o prejuízo, em tempo e dinheiro, que o passageiro sofreu ao longo dos últimos meses como consequência da mesquinhez política.

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