O caos continua no setor aéreo do país, agora agravado pela falência virtual de mais uma companhia do setor, fazendo retornar o triste espetáculo de filas de passageiros amontoados sem orientação e levados ao desespero nos aeroportos. Trata-se de um novo episódio da crise cíclica que se instalou desde o ano passado, e que não foi resolvida pela troca de ministros nem pela recente mudança na diretoria da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac); mostrando estar faltando capacidade de gestão nessa área infra-estrutural tão importante.
O fator imediato para desencadear o novo surto agudo da crise aérea foi o colapso da empresa aérea BRA, que começou a funcionar há seis anos no transporte de turistas em vôos fretados e que detinha perto de 5% do volume de tráfego de passageiros. Vitimada por um conflito insuperável de gestão, a empresa veio perdendo fôlego nos últimos meses, passando por restrições à operação de suas linhas internacionais, depois, retirada de metade de sua frota para manutenção, até culminar com o auto-pedido de suspensão dos vôos e demissão total de seus funcionários.
O aspecto insólito dessa sucessão de problemas é que as autoridades, que supostamente deveriam estar monitorando a questão, foram colhidas de surpresa com a quebra da operadora aérea; da mesma forma que milhares de pessoas que já tinham adquirido cerca de 70 mil bilhetes de vôo. O episódio leva a questionamentos, entre eles o de que o governo continua sem apoio de um serviço de inteligência capaz de propiciar subsídios para decisão e, sobretudo, sem um sistema de planejamento capaz de formular cenários e antecipar cursos alternativos de ação.
Dentro da velha tradição nacional, os governantes continuam a improvisar soluções pontuais, reagindo a cada pequeno evento que se sucede sem controle. Não obstante, os dirigentes da área do ministro de Defesa ao corpo dirigente da Anac se sucedem em pronunciamentos revestidos de eloqüência, como se meras declarações públicas tivessem o condão de se superpor à ação concreta. A mera emissão de ordens não surte efeito se não for acompanhada de verificação direta de seu cumprimento.
Num sinal de reconhecimento da ineficiência dos procedimentos anteriores e assoberbado por outros acontecimentos como a recente tragédia causada pela queda de um jato executivo sobre um bairro em São Paulo , o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou a constituição de comitês operacionais integrados por representantes dos três órgãos que influem sobre o setor de aviação: a já mencionada Anac, a Infraero, que administra os aeroportos, e o Comando da Aeronáutica, o segmento militar da área.
Esse paliativo para enfrentar o aumento de tráfego do final de ano pode amenizar a crise, porém ela só será superada com planejamento criterioso, aplicação efetiva das alternativas escolhidas e gestão competente desse setor fundamental que é a aviação civil.



