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Editorial

Selic sobe com tensão externa, economia aquecida e governo irresponsável

Gabriel Galipolo alta Selic Banco Central
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante evento em abril de 2025. (Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil)

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Em apenas um mês, o mercado financeiro alterou drasticamente suas previsões a respeito do aconteceria na reunião recém-terminada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Se no fim de maio era dado como quase certo que o ciclo de aperto monetário tinha acabado, e que o Copom manteria a taxa Selic em 14,75%, no início desta semana, véspera da reunião, a maioria das previsões apontava para a continuação das altas, desta vez com uma elevação mais leve, de 0,25 ponto porcentual. No fim, foi o que ocorreu – agora, os juros básicos da economia estão em 15% ao ano, o maior patamar em 20 anos.

O comunicado divulgado ao fim da reunião aponta para um tripé de fatores que explicam a decisão, tomada por unanimidade em um colegiado no qual 7 dos 9 integrantes foram indicados por Lula: conjuntura internacional delicada, economia ainda aquecida e irresponsabilidade fiscal do governo – necessariamente nesta ordem em termos de menção explícita no texto. O cenário externo foi citado logo no início do comunicado, com destaque para as incertezas em relação à política fiscal e comercial dos Estados Unidos, às voltas com a guerra tarifária e os ajustes orçamentários em discussão no Legislativo norte-americano – aliás, no mesmo dia em que o Copom elevou a Selic, o Fed manteve os juros inalterados nos EUA, entre 4,25% e 4,5% ao ano, os mesmos patamares desde setembro de 2024. O “acirramento da tensão geopolítica” também mereceu uma breve citação, já que os efeitos da guerra entre Irã e Israel, especialmente no mercado de petróleo, ainda são difíceis de prever.

Os últimos “desenvolvimentos da política fiscal” têm mostrado como Lula e Fernando Haddad continuam convictos de que é preciso seguir gastando

Internamente, apesar do que o Copom identifica como “certa moderação no crescimento”, os membros do comitê ainda enxergam uma economia aquecida e um mercado de trabalho dinâmico – o desemprego terminou o trimestre móvel encerrado em abril na casa de 6,6%. Alguns setores já mostram desaceleração, mas outros, como o de serviços, continuam fortes. Políticas governamentais como a liberação de saques extraordinários do FGTS, a ampliação das modalidades de empréstimo consignado e a antecipação do 13.º salário de aposentados e pensionistas tendem a estimular o consumo e a demanda, o que por sua vez gera pressão inflacionária quando não há um correspondente aumento na produtividade.

Por fim, o Copom afirma que “segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros” – uma frase aparentemente inócua, mas que serve como alerta para o atual governo. Os últimos “desenvolvimentos da política fiscal” têm mostrado como Lula e Fernando Haddad continuam convictos de que é preciso seguir gastando, e que para fechar as contas basta elevar ainda mais a arrecadação, em vez de cortar gastos. A insistência governamental em elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) levou a um choque público entre Haddad e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que criticou a medida. E a mãozinha amiga do presidente da Câmara, Hugo Motta, que não deve pautar tão cedo o decreto legislativo que suspende as mudanças no IOF, deu uma sobrevida a um governo que simplesmente não sabe o que fazer para equilibrar as contas públicas.

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Ao contrário do que havia feito na reunião anterior, desta vez o Copom retomou a prática de antecipar decisões futuras, afirmando que “em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado”. O problema está nesta condicional; como o cenário externo não está sob controle de ninguém em Brasília, resta saber se o cenário interno confirmará o “cenário esperado” ou se o governo continuará sua espiral de irresponsabilidade, gastando sem controle, tributando na mesma proporção e estimulando o crescimento apenas pela via do consumo.

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