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Apagão
Sete estados ficaram completamente sem luz durante o apagão de terça (15), confirma relatório do ONS.| Foto: André Coelho/EFE

Às 8h30 de terça-feira, quase todas as unidades da Federação, à exceção de Roraima, ficaram sem energia elétrica em maior ou menor grau. Em alguns locais, o abastecimento foi restabelecido em menos de uma hora; em outros, foi preciso esperar até seis horas, com todos os transtornos, particulares e coletivos, decorrentes de tamanho período sem eletricidade. O blecaute e seus desdobramentos mostram que o Brasil pode não ter ficado literalmente no escuro, até porque tudo se deu durante o dia, mas que vivemos um verdadeiro apagão moral nos principais escalões do poder.

Já causa enorme estranheza que, até o momento de publicação deste editorial, não se saiba ao certo onde ocorreram as falhas determinantes para a queda de energia no Norte e Nordeste – quanto aos estados do Sul e Sudeste, já se sabe que houve um desligamento proposital para evitar danos ainda maiores. O ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS) Luiz Eduardo Barata disse ao jornal Folha de S.Paulo que o órgão tem condições de saber quase instantaneamente a origem de apagões como o de terça-feira. “Depois, óbvio, você vai ver o que aconteceu a mais, mas a causa você sabe imediatamente. Digo isso sem medo de errar”, afirmou Barata. Até o momento, no entanto, fala-se apenas em uma linha no Ceará, mas que o próprio diretor atual do ONS diz ser uma falha insuficiente para causar tamanho estrago. Além disso, ao contrário de outros apagões, o de terça ocorreu em um momento de baixa demanda por energia e reservatórios cheios nas hidrelétricas.

Petistas correm para apontar a privatização da Eletrobras como causa do apagão, mas quem mais trabalhou para prejudicar a empresa foi exatamente a esquerda

Seja fruto de incompetência ou uma decisão deliberada, tamanha demora para se identificar ao certo a origem do apagão foi rapidamente aproveitada pelo petismo e seus aliados de esquerda, que fizeram o que melhor sabem fazer: não explicar nada e politizar tudo. Oportunistas novatos e experientes escolheram como alvo da vez a Eletrobras – ou melhor, a sua privatização, ocorrida no governo de Jair Bolsonaro. A primeira-dama Janja, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) se manifestaram nas mídias sociais; muito mais irresponsável foi o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que associou o blecaute à privatização de forma mais sutil, afirmando que a desestatização trouxe instabilidade ao sistema elétrico e “tirou a possibilidade de um sistema harmônico na área elétrica”. O também petista Wadih Damous, que comanda a Secretaria Nacional do Consumidor, notificou a Eletrobras, afirmando que ela “tem a obrigação de esclarecer ao povo brasileiro o que aconteceu e qual foi a causa desse apagão”, quando na verdade as investigações cabem ao ONS.

Se Silveira ao menos ainda teve capacidade de oferecer algum argumento, ainda que pífio, para suas ilações a respeito da Eletrobras, outros oportunistas simplesmente apelaram à falácia conhecida como post hoc ergo propter hoc, na qual se cria uma falsa relação de causalidade entre dois fatos que apenas se sucedem no tempo. Se o apagão ocorreu depois da privatização, então a privatização é a causa do apagão – é disso que os petistas querem convencer o país, como já fizeram em outras ocasiões. Para isso, no entanto, é preciso esconder o fato de que o país já teve grandes blecautes nos tempos de Eletrobras estatal – um no segundo mandato de Lula e três no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Dilma, aliás, tem no currículo uma das canetadas que mais prejudicaram o setor elétrico em geral e a Eletrobras em particular, a MP 579, que barateou a conta de energia elétrica em um primeiro momento, mas que levou à desorganização completa da área. Também foi a esquerda, por meio de sindicatos, que recorreu ao STF em 2019 para forçar a Eletrobras a continuar carregando nas costas subsidiárias quebradas, das quais pretendia se desfazer – o então ministro Ricardo Lewandowski atendeu o pedido, em decisão posteriormente revertida pelo plenário. Ao deixar de lado a investigação técnica e partir para a politização, o petismo aponta um dedo para a Eletrobras, mas tem outros mais apontados para si.

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