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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Centrais sindicais escolheram o dia 19 de fevereiro – quando o governo pretende colocar a reforma da Previdência em votação na Câmara dos Deputados – para o que chamam de “Jornada Nacional de Luta”. O slogan escolhido, “Se botar pra votar, o Brasil vai parar”, mostra, no mínimo, uma intenção de adotar as mesmas estratégias aplicadas em abril do ano passado; e, na pior das hipóteses, o que as centrais chamam de “reforçar a pressão no Congresso Nacional” pode até se transformar em agressão antidemocrática que realmente impeça a votação no plenário da Câmara.

Evocar o “sucesso” do movimento de abril, no entanto, é uma grande falácia. As centrais sindicais estimaram em 40 milhões o número de brasileiros que teriam “cruzado os braços” em protesto contra a reforma da Previdência, mas a verdade é que é impossível estimar o número exato dos que aderiram ao protesto de forma consciente. Os manifestantes desrespeitaram abertamente o direito de ir e vir dos brasileiros com bloqueios em estradas e ruas importantes de várias metrópoles, e uma das categorias paradas era a dos trabalhadores do transporte coletivo – em Curitiba, até mesmo decisões judiciais foram desrespeitadas. Por isso, pode-se estimar que boa parte desses 40 milhões que os sindicalistas alegam ter participado da paralisação era formada por cidadãos que desejavam ir ao trabalho, mas foram impedidos de fazê-lo.

O protesto de abril só conseguiu resultado por violar os direitos dos cidadãos, impedidos de se deslocar até seus locais de trabalho

Recorde-se, por exemplo, o protesto de novembro de 2017. Sem os bloqueios e sem a paralisação no transporte coletivo, o brasileiro praticamente não percebeu que havia algum movimento de massa para reclamar das reformas. O maior dos atos realizados no país, em São Paulo, não juntou mais de 2 mil pessoas. Isso é suficiente para mostrar que o fator decisivo em abril foi realmente a violação dos direitos dos cidadãos, impedidos de se deslocar até seus locais de trabalho. Se em fevereiro os sindicalistas conseguirem interferir na mobilidade, poderão conseguir números semelhantes aos de abril de 2017 e bravatearão sobre uma “adesão em massa” que é pura ilusão.

Independentemente dos métodos usados, e que só serão conhecidos mesmo no dia do protesto ou às vésperas dele, salta aos olhos desde já que, assim como ocorreu ao longo de todo o ano passado, as centrais sindicais não oferecem nenhuma alternativa à reforma que está sendo proposta. Limitam-se a chamar a reforma de “retrocesso” e a denunciar a “campanha enganosa do governo Michel Temer”, como diz a nota assinada pelos presidentes de seis centrais – incluindo Paulinho da Força, teoricamente integrante da base aliada do governo na Câmara. Não há uma palavra sobre como resolver o déficit bilionário da Previdência Social, tanto do setor privado quanto do público.

Leia também: A greve geral e as reformas (editorial de 29 de abril de 2017)

Leia também: O fiasco da “greve geral” (editorial de 10 de novembro de 2017)

As centrais sindicais têm vários motivos para se opor a Michel Temer: umas o fazem por motivos ideológicos, satélites que são do petismo; outras não perdoam o fim do imposto sindical, aprovado na reforma trabalhista. Mas a reforma da Previdência é uma urgência para o país, e é contra o Brasil que as centrais trabalham quando preferem a postura do avestruz, fingindo que não existe um problema que ameaça as aposentadorias futuras dos trabalhadores de hoje.

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